São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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São jardins, castelos e cidades

ESPECIAL PARA A FOLHINHA

Desde a antigüidade até os nossos dias, muitos escritores contaram histórias de labirinto. Nem sempre o labirinto é como o do rei Minos.
Às vezes, é um jardim; outras, um castelo; outras, ainda, uma cidade -como São Paulo, que é tão imensa e complicada que a gente pode chamar de labirinto.
Às vezes, o labirinto nem existe de verdade: o labirinto são as coisas da vida, e alguém está tentando escapar.
Entre os autores da nossa época que escreveram sobre labirintos, ninguém melhor do que o argentino Jorge Luis Borges (1899-1986).
Para Borges, que ficou cego adulto, o mundo inteiro era um labirinto de palavras e memórias.
Ele, que já tinha lido todos os livros, e se lembrava de quase todos, vivia da memória desses livros e dos outros que ia escrevendo.
Borges gostava de pensar que vivia num labirinto, que ele chamava de biblioteca.
Escreveu uma história sobre o Minotauro, "A casa de Astérion", em que a personagem principal é o próprio Minotauro.
E o Minotauro não é um monstro: é um homem quase igual aos outros, que pode sair do labirinto, se quiser, mas não pode sair de si mesmo, o que é uma outra espécie de labirinto.
Borges dizia que o pior labirinto é a linha reta: porque não acaba nunca e por causa, também, do "paradoxo de Zeno" (veja abaixo).
Outros dizem que é o tempo (do qual a gente não consegue sair).
Um autor irlandês escreveu um livro em que esses dois labirintos se misturam. O nome dele é Flann O'Brien (1911-1966) e o livro é "O Terceiro Tira".

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