São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996![]() |
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"É o Fim do Mundo" acumula caricaturas
NELSON DE SÁ
E não apenas o título, mas todo o desfiar de lugares-comuns desentendidos, da novela, sobre o fim do milênio. Encerrado o espetáculo, não é diferente a sensação. "É o Fim do Mundo" deixa a impressão de não se aprofundar em coisa alguma e de acumular caricaturas sobre caricaturas, já acompanhadas à exaustão em outras partes. O efeito é de vazio e frustração, até diante da escatologia. E a peça, como se diz, não funciona. Como em algum filme dos mais recentes de Quentin Tarantino, a quem a peça faz referência, "É o Fim do Mundo" bem que podia ser inteiramente irresponsável e juvenil. Mas não consegue. Exige-se de si mesma deixar uma mensagem social, para evitar adentrar inteiramente o execrado campo da farsa. Daí a escatologia que, em vez de gatilho de humor, torna-se algum chamado à consciência. Um bebê é devorado no palco, e a cena não é engraçada, nem trágica. É parte de alguma lição subliminar sobre hipocrisia da sociedade burguesa ou coisa que o valha. "Todos podemos continuar achando que somos limpos e puros", diz um personagem. A situação da peça, tirada da Jornada Sesc: sem sentidos, no hospital, um escritor bígamo recebe a visita da mulher rica, do filho débil mental, do filho marginal, da outra mulher e sua filha, crentes, e de um homossexual negro. Com uma trama engenhosa, ainda que conservadora, a ponto de lembrar Agatha Christie e "The Mousetrap", chega-se à situação-limite em que os personagens estraçalham e comem o bebê recém-nascido -para descobrir que, assim, morrerão intoxicados. "Nós estamos todos condenados", diz um personagem. Por outro lado, é bom registrar que, quando não quer dar lições, nem repetir todo o kitsch do final de século, "É o Fim do Mundo" consegue ser muitíssimo engraçada. É racista, sexista, em ritmo desenfreado, aí sim, demolidor, próprio do melhor "stand-up", e apoiado em comediantes plenos, ainda que inexperientes, como Jacqueline Obrigon e Joelson Medeiros. É quando Renato Modesto está em sua melhor forma. Quando não quer fazer pensar. Peça: É o Fim do Mundo Onde: teatro Paulo Eiró (r. Adolfo Pinheiro, 765, tel. 546-0449) Quando: qui a sáb, às 21h, dom, às 20h Quanto: R$ 8 Texto Anterior: Obras unem arte e palavra Próximo Texto: Antiqua toca no Municipal Índice |
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