São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Globo e SBT davam presentes à Censura

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

A Globo e o SBT mantinham com a extinta Censura Federal relacionamento bem mais harmonioso do que se imagina. Duas cartas revelam que as emissoras mandavam presentes para o órgão em São Paulo.
A Folha consultou os documentos com a ajuda de um ex-censor, que prefere não se identificar.
As correspondências vêm à tona justamente no momento em que o filme britânico "Trainspotting", a banda Planet Hemp e a música "Veja os Cabelos Dela" sofrem vetos (ou ameaças de).
Os dois primeiros são alvo da tesoura por tratarem de drogas. A canção do palhaço Tiririca está na mira sob acusação de racismo.
As cartas encontradas trazem a assinatura do advogado Dráuzio Seimann Dornellas Coelho, que chefiou o Serviço de Censura Federal no Estado de São Paulo em dois períodos: de 1981 até 1983 e de 1985 até 1988.
Uma das correspondências tem por destinatário Luiz Guimarães, identificado como "superintendente da Rede Globo de Televisão". É do dia 11 de junho de 1981.
Dornellas agradece a "doação" de uma "TV em cores, marca Sanyo". E informa que o aparelho irá para o "salão de recreação dessa superintendência".
A outra carta, do dia 9 de novembro de 1981, é endereçada a Luciano Callegari, "diretor-presidente da TVS". Naquele ano, o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) acabara de nascer. Fora fundado em agosto e muitos o chamavam ainda de TVS -nome da primeira emissora que Silvio Santos ganhou do governo, o canal 11 do Rio.
Na carta, Dornellas acusa o recebimento de um "conjunto estofado, destinado à chefia do Serviço de Censura Federal". Agradece a "gentil oferta", mas avisa que devolverá "o mobiliário".
Em anexo, há uma nota fiscal do dia 21 de outubro de 1981, expedida por "TVS - TV Studios Silvio Santos Ltda". O número do documento é 701. A série, B2.
A nota indica que o Serviço de Censura recebeu "1 conjunto estofado, 1 mesa de centro e 2 mesas laterais". Os móveis valiam, juntos, Cr$ 40.700,00 (ou aproximadamente US$ 367,00, de acordo com o câmbio oficial da época).
O documento mostra, ainda, que a TVS pagou sobre as mercadorias imposto de Cr$ 6.308,50 (mais ou menos US$ 57,00).
O chefe da Censura encerra as duas cartas cordialmente, renovando "protestos de elevada estima e consideração".

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