São Paulo, sábado, 3 de agosto de 1996
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Rossicléia está à altura de Tiririca

BARBARA GANCIA

BREGA Humorista cearense usa escatologia em CD e livro
Rossicléa compete à altura com vulgaridade de Tiririca

Se você pensa que o palhaço Tiririca é o comediante mais tosco e vulgar dos últimos tempos, aguarde até conhecer Rossicléa Eleutera Cosme.
O personagem foi cometido pela humorista -cearense, claro- Valéria Vitoriano, 25, que já participou de programas de Chico Anysio e é cria dos shows da orla de Fortaleza, de onde surgiram Tom Cavalcante e Falcão. Agora ela pode ser mal-digerida também em CD e livro.
Seguindo a linha "non sense pé nem cabeça" do conterrâneo Falcão, no disco "Rossicléa, Best of the Best - Mais Besta do Que Nunca", Valéria pega no pé de italianos, alemães, franceses, negros e gays. Tudo banhado ao ritmo de forró, que transforma todas as faixas do disco na mesma música safadinha.
Sinta o cheiro da brilhantina: "Muriçoca pica à noite, de dia pica também. Ela entra lá de fora, a danada vai e vem (...) Pica dentro, pica fora, pica a frente, pica atrás". É de morrer de saudades daquele "gentleman", o Genival Lacerda, ou não é?
O livro "Rossicléa, Comédias da Minha Vida na Privada", então, é de causar convulsões de riso em qualquer criança recém-saída da fase anal.
Veja que gracinha de introdução: "Para a introdução, recomenda-se dobrar e enfiar com cuidado". O leitor achou vulgar? Pois essa é uma das únicas passagens do livro que não contém palavrões.
A escatologia -a esta altura você já deve ter percebido- é o forte de Rossicléa. E a escatologia é o recurso mais pobre de que um humorista possa se valer.
Na história do humor, que se saiba, nenhuma carreira se sustentou apenas com piadinhas de mau gosto. Max Nunes, Ronald Golias, os Irmãos Marx, o grupo Monty Python, W.C. Fields, Mel Brooks e centenas de outros gênios do humor estão aí que não me deixam mentir.
Valéria Vitoriano, que é engraçada por natureza, tem ótima presença no palco e potencial para se tornar uma Dercy Gonçalves ou Consuelo Leandro de sua geração, deveria saber disso. Alô, Valéria Rossicléa! Troca a pilha, minha filha! Sai dessa lama, jacaré!

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