São Paulo, sábado, 3 de agosto de 1996
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Quadro de grande insegurança

JOSÉ GOMES DE ALENCAR SOBRINHO

O quadro de recessão econômica em que nos encontramos hoje faz com que qualquer iniciativa que possa gerar empregos seja bem-vinda. Nesse sentido, está correta a decisão do governo FHC de investir bilhões de reais em praticamente todos os grandes aeroportos brasileiros, habilitando-os a se tornar grandes centros comerciais e uma alternativa importante de desenvolvimento e integração nacional.
Preocupa, porém, ver que a modernização da estrutura física dos nossos aeroportos não está sendo acompanhada pela necessária valorização profissional da mão-de-obra; preocupação que, em tempos neoliberais, parece soar subversiva aos ouvidos do governo federal. Ele está preferindo optar pela terceirização de muitos serviços. Essa opção gerará efeitos ruins a médio prazo.
Com a terceirização, estão vindo para os aeroportos pessoas com salários mais baixos, o que gerou grande rotatividade da mão-de-obra. Como consequência disso, a qualificação profissional desses trabalhadores é baixa. O que está causando a queda de qualidade dos serviços prestados, entre eles o da tão vital e indispensável segurança.
Por conta desse descaso com os profissionais do setor, criaram-se nos aeroportos brasileiros situações de grande insegurança. No aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, um dos mais movimentados do país em vôos domésticos, não há qualquer forma de controle eficiente da bagagem de mão dos passageiros.
Em Campinas, no aeroporto de Viracopos, a situação é mais preocupante: existe o equipamento, existe a mão-de-obra treinada da própria Infraero, mas o serviço não é feito, pois se está esperando que venham os trabalhadores terceirizados. Uma grave falha, pois, como sabemos, segurança se faz em tempo integral.
A opção do governo em investir apenas no espaço físico, esquecendo-se completamente de quem movimenta as máquinas, ainda nos trará dissabores. Aeroportos têm, por todo o mundo, a necessidade de ser ilhas de segurança.
Um acidente grave pode abalar mundialmente a imagem de um país. E, na situação em que se encontram hoje os nossos aeroportos, episódios tristes, como o que envolveu recentemente o avião da TWA, não podem, infelizmente, ser descartados.

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