São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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PT põe Orçamento participativo na vitrine

ELEONOR DE LUCENA
DA REDAÇÃO

O Orçamento participativo é a principal vitrine da administração de Porto Alegre. O mais recente admirador do sistema é o novo prefeito (da oposição) de Buenos Aires, Fernando de la Rúa, que já manifestou intenção de importá-lo. Tido como revolucionário pelos petistas, o modelo recebe críticas de empresários e políticos.
O processo, comandado pela prefeitura, começa todo o ano com reuniões nas 16 regiões da cidade. O conjunto do Orçamento é apresentado e são acertados os percentuais para investimento, custeio e folha de pagamento.
Numa segunda etapa são fixadas as prioridades de cada região e delegados eleitos em assembléias negociam a divisão do dinheiro. Durante seis anos, o gasto em saneamento básico foi escolhido como o principal. Hoje, a preferência está na regulamentação fundiária e na pavimentação.
Participam do processo, segundo a prefeitura, 200 mil pessoas e até mil entidades comunitárias (clubes de mães, de futebol, sindicatos etc). Funcionários municipais acompanham todas as reuniões, apenas com poder de voz.
No final, o prefeito tem poder de veto (ainda não exercido). Ficam estabelecidas 350 obras e a administração contrata os serviços com empreiteiras. Nas construções de maior vulto, é formada uma comissão de controle, que acompanha a execução do projeto.
Comuna de Paris
"Ele é uma combinação das experiências da comuna de Paris, das comissões administrativas oriundas da social democracia, das experiências comunitárias da democracia americana e da democracia representativa tradicional", define o prefeito Tarso Genro.
Para ele, a gestão petista conseguiu "dissolver as barreiras mais violentas que separam o cidadão comum da prefeitura e recuperar a auto-estima dos mais excluídos". "No começo do governo Olívio Dutra (1989-1992), nós saíamos das reuniões com 20, 30 cartas de pedidos pessoais; hoje eu venho com uma, duas cartas", diz.
"Aparelhão"
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), Dagoberto Lima Godoy, 58, diz que o processo do orçamento participativo permite ao PT "estar sempre em campanha". Ele acha que a administração acaba sendo muito voltada para a periferia e se prende em aspectos superficiais.
"Eles não investiram em grandes obras que fazem falta, como o sistema viário", afirma. Concorda com Godoy o presidente da Federação das Associações Comerciais do Rio Grande do Sul (Federasul), Mauro Knijnik, 56. "Falta visão para definir obras de infra-estrutura. O trânsito é caótico", diz.
Knijnik acha o orçamento participativo "um pouco ditatorial" na medida que tira poderes da Câmara Municipal eleita. Ele vê "características conservadoras" na administração, que, na sua opinião, trabalha muito com a classe média, cuidando apenas de calçamento, limpeza e pinturas simples.
O historiador Décio Freitas, 73, participou de reunião do orçamento participativo no centro da cidade e concluiu que o sistema "é um aparelhão", no velho jargão da esquerda. "É difícil saber quando são as assembléias e ele é todo controlado pelo prefeito", declara.
Eleitor do PT nas próximas eleições, Freitas acha o modelo "uma fraude política" e uma usurpação das funções da Câmara. "Ele não é nem participativo nem representativo", acrescenta.
Para o prefeito Tarso Genro, as críticas significam "uma visão preconceituosa". Segundo ele, dos 84 conselheiros do sistema, "só uns 20 são do PT".
(EL)

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