São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
Próximo Texto | Índice

Brasileiro casa menos e separa mais

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os brasileiros estão se casando menos e se separando cada vez mais. Estão adiando também a hora de abrir mão da vida de solteiro.
Ao mesmo tempo, está crescendo o número de pessoas que vivem juntas, sem um vínculo formal.
Os números mostram que a crise do casamento -um fenômeno que atinge quase todo o Ocidente- chegou ao Brasil mais tarde do que aos EUA, mas com intensidade ainda maior.
O auge do matrimônio no Brasil aconteceu no Plano Cruzado. Em 86, 1 milhão de casais disseram sim perante o juiz de paz.
A redução de 24% nos matrimônios num período relativamente curto -8 anos- já seria sinal de mudanças drásticas nos costumes. Mas as mudanças das relações conjugais foram mais profundas.
Em apenas quatro anos, de 90 a 94, as separações judiciais aumentaram 22% no país. No mesmo período, as separações litigiosas -que envolvem disputa na Justiça- subiram em uma velocidade ainda maior: 38%.
Como resultado, a taxa de separação por casamento, que no início da década era de 9 divórcios ou desquites para cada 100 matrimônios/ano, passou em quatro anos para 11 por 100.
Extinção
Apesar das estatísticas, o casamento não corre risco de extinção -sustenta Frank Furstenberg Jr., professor catedrático de sociologia da Universidade da Pensilvânia (EUA).
Um dos maiores especialistas no assunto, ele mostra, em artigo para a revista "American Demographics", que a maioria das americanas, em algum momento de suas vidas, ainda almeja o casamento.
Nesse caso, o que vale para os EUA também serve aqui: 93% das brasileiras na faixa dos 45 aos 49 anos estão ou já foram casadas pelo menos uma vez.
O que está mudando em relação ao casamento é quando, como ele ocorre e quanto tempo dura.
Os brasileiros estão demorando mais para se casar "de papel passado". A idade média de noivas e noivos aumentou mais de meio ano entre 90 para 94.
Os homens, que enfrentavam o juiz com 26,4 anos, agora só dizem sim com 27,1 anos, em média. As noivas passaram de 23 anos para 23,6 anos.
Pode parecer pouco, mas, comparativamente a outros países, a mudança está ocorrendo rápido. Os EUA, por exemplo, demoraram 34 anos para aumentar em 2,5 anos a idade de seus noivos.
Experimentar antes
Para a coordenadora do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, Maria Coleta de Oliveira, essa demora pode ser um sinal de que o brasileiro experimenta a vida conjugal antes de formalizar o casamento.
A hipótese, compartilhada pelo demógrafo Juarez de Castro Oliveira, do IBGE, tem fundamento numérico.
Em 80, 9,3% das brasileiras de 25 a 29 anos viviam em união consensual. Em apenas 13 anos, quase dobrou esse percentual: já era 17,8% em 93.

LEIA MAIS sobre a crise no casamento nas págs. 2, 3, 4 e 5

Próximo Texto: Homem e mulher querem mais da relação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.