São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Homem e mulher querem mais da relação

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A emancipação feminina, o individualismo, o medo de correr riscos e o menor poder de coerção das convenções sociais são as principais causas das transformações no modelo de casamento, na análise dos especialistas.
"A tradicional barganha entre homens e mulheres -suporte financeiro em troca de serviços domésticos- não é mais válida", escreve Frank Furstenberg Jr., da Universidade de Pensilvânia.
Na sua opinião, os dois lados entram no casamento com expectativas maiores de intimidade, entendimento e satisfação sexual. Se esses alvos não são atingidos, eles se sentem livres para acabar a relação e partir para outra.
Essa nova tendência está soterrando a concepção de matrimônio eterno e incorporando a perspectiva de separação ao novo modelo de casamento.
"O individualismo que permeia a sociedade é o valor cultural que permeia também essa nova relação", explica a demógrafa Maria Coleta de Oliveira, da Unicamp.
"A mulher deixa de ser a costela de Adão e passa a ser um indivíduo que pode tomar decisões e romper tradições", completa.
Essa afirmação individual tem características distintas para homens e mulheres.
Indicador disso é o fato de que 77% das separações litigiosas baseadas em conduta desonrosa de um dos cônjuges são requeridas pelas mulheres.
O crescimento na parcela feminina na força de trabalho não é a única razão pela qual as mulheres abandonam os casamentos que não lhes servem mais. As mudanças na sociedade também tornaram o divórcio mais aceitável.
É curioso notar que, apesar de a maioria das separações ocorrerem por volta dos 33 anos para a mulher e dos 37 anos para os homens, foi na faixa etária acima de 45 anos que mais cresceram os pedidos de divórcios entre 1990 e 94.
"Isso demonstra que havia uma demanda reprimida por separações", conclui Maria Coleta.
São mulheres de uma geração que ainda encarava a separação como tabu. O tempo passou, os filhos foram criados, os costumes mudaram, e elas puderam arriscar uma saída fora do casamento.
No caso dos homens dessa faixa etária, tudo indica que se trate de uma tentativa de se "beneficiar" da oferta favorável do mercado conjugal.
Ao contrário da mulher, o homem separado e com mais de 40 anos, na grande maioria dos casos, consegue casar com solteiras até dez anos mais jovens.
Os jovens
O cenário por trás das separações dos casais entre 20 e 30 anos e os motivos que levam os jovens a se casarem menos do que seus pais parecem ser outros.
"A geração que está entrando na idade de casar é a geração da pílula anticoncepcional, que tem novos conceitos sobre a relação homem/mulher", sustenta Juarez de Castro Oliveira.
O demógrafo do IBGE lembra ainda que essa geração foi afetada por uma longa sucessão de crises econômicas, que geraram um clima de insegurança em relação à renda e ao emprego.
Talvez por isso é também uma geração menos disposta a arriscar -seja para casar ou para ter filhos.

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