São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Pai solteiro assume filho, mas não casa

SUZANA BARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários, arquitetos, advogados e até esportistas, eles nem pensavam no assunto. Mas, de repente, descobriram-se "grávidos" de namoradas ou de mulheres com quem mantinham relacionamentos passageiros.
O nadador medalha de prata Fernando Scherer é o exemplo mais famoso. "Xuxa", 21, é pai de uma criança de seis meses e não pensa em casar.
"Não acho que o nascimento do bebê implica casamento", diz o nadador, que no futuro pretende casar e ter filhos.
O susto é a primeira reação dos pais solteiros ao receberem a notícia da gravidez. Muitos pensam que a saída é abortar. Outros decidem assumir a crianças. Mas casar, jamais.
"Estava livre, leve e solto. Não queria compromisso, muito menos um filho", diz o microempresário W.S., 46, pai solteiro de uma menina de oito anos.
Quando "engravidou", W.S. acabara de romper um longo namoro e mantinha alguns casos amorosos. A mulher, conta, sabia que não era a única.
W.S. diz que até os três meses de gravidez insistiu pelo aborto. Quando não tinha mais jeito, decidiu assumir a filha, mas não o relacionamento.
"Não acho que fui usado, mas acreditava que ela estava tomando cuidados para evitar a criança."
Carlos Alexandre, 25, solteiro, um dos herdeiros de um escritório de advocacia paulista, teve dois filhos em sua adolescência, cada um com uma mulher diferente.
O primeiro nasceu de uma transa com uma amiga que havia se declarado apaixonada por ele. A segunda, hoje uma menina de três anos de idade, é fruto de um final de namoro.
"Foi um baque. Não tinha estrutura para ter uma criança", diz Alexandre, que quer casar e ter filhos no futuro.
Hoje ele diz que já programa sua vida pensando nas crianças. "A namorada agora tem de aceitar que eu tenho filhos e, às vezes, não posso sair porque preciso cuidar das crianças."
O arquiteto gaúcho Celso Knijnik, 33, soube que seria pai quando a ex-namorada estava no terceiro mês de gravidez e vivia em outra cidade. Ele morava em Porto Alegre e ela, em Curitiba.
Conheceu a filha, hoje com 14 anos, quando ela tinha oito meses, em uma viagem a Curitiba.
"No começo, pensei no aborto e muitos achavam que eu poderia não ser o pai. Mas quando vi a menina, não tive dúvidas: era minha filha."
Knijnik conta que, na época, não era comum o homem pensar em evitar filhos. "A gente confiava que elas estavam se cuidando, que tomavam pílula ou seguiam a tabelinha", diz.
O primeiro filho do advogado Antônio Xisto Mello, 32, surgiu de uma "transa" com a ex-noiva, quando ela morava em São Paulo e ele estava de malas prontas para ir morar em Maceió.
"O relacionamento já tinha acabado e eu começava a namorar com a mulher com quem iria me casar", diz Mello, que hoje tem dois filhos desse casamento.
Sabendo da gravidez, Mello achou que não valeria a pena voltar para São Paulo e morar com a criança, reconhecida legalmente por ele ao nascer.
"Não é o fato de os pais viverem juntos que fará o filho ser feliz."
Mello diz que vê pouco a criança, mas sempre manda pensão.

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