São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Juros não podem aumentar no Japão

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Na semana passada foi divulgada uma série de indicadores da economia americana que praticamente eliminam a hipótese de elevação dos juros na próxima reunião do Fed (banco central dos EUA). Na sexta-feira os juros de longo prazo nos títulos de 30 anos do Tesouro caíram a 6,75%, levando nova onda de otimismo para as Bolsas de todo o mundo.
No Japão, entretanto, continua o debate sobre a possibilidade de uma elevação dos juros nas próximas semanas. O mercado já sinaliza uma leve alta, mas ainda há dúvidas quanto à ação do Banco do Japão.
Na semana passada o Banco anunciou que vai antecipar a divulgação da próxima pesquisa "tankan" de condições econômicas para o próximo dia 28. O anúncio disparou a especulação. Aumentam as chances de uma elevação dos juros. Como o Fed reúne-se no dia 20, a evolução dos juros japoneses vai depender muito do que decidirem as autoridades norte-americanas.
Os indicadores de conjuntura no Japão continuam mostrando um processo de franca recuperação econômica. A construção de casas teve em junho uma alta de 9,6% frente ao ano anterior, o quarto aumento mensal consecutivo. Em maio a taxa alcançou espantosos 18,1%, mas o dado de junho, anualizado, representa um volume de construções superior a 1,5 milhão pelo nono mês seguido. Os juros baixos e a perspectiva de aumento nos impostos sobre o consumo em 1997 estão servindo de estímulo aos consumidores.
Crise financeira
Em 17 de julho os juros nos papéis de dez anos do governo subiram ao nível mais alto em dois meses (3,4%). Papéis de prazo mais curto também estão em alta. O banco central poderia elevar os juros básicos para 1% (atualmente estão no recorde de 0,5%).
O Japão tem adotado uma combinação de política monetária frouxa, procurando estimular a economia ao mesmo tempo em que coloca no horizonte um aumento de impostos sobre o consumo (que passarão de 3% para 5%). Ao menos teoricamente, à medida que a economia passe a crescer mais, a política econômica deveria trocar de sinal: menos aperto fiscal, mais aperto monetário.
Mas há também o cenário de neutralidade do banco central. As falências de empresas com dívidas acima de um bilhão de ienes chegaram a um recorde em junho. O sufoco empresarial e bancário japonês aos poucos diminui, mas o estoque de problemas ainda é elevado. Elevar os juros apenas dificultaria a recuperação dos bancos.
Na área cambial, o dólar tem sofrido desvalorização frente ao iene. Elevar os juros significaria forçar uma valorização ainda maior da moeda japonesa. E quanto mais forte o iene, menor a competitividade dos exportadores japoneses. Seria, portanto, um fator de crescimento a menos, num momento em que o banco central japonês quer evitar a inflação, mas não a ponto de sacrificar o processo de retomada do crescimento. Afinal, crescimento ainda é o melhor remédio para problemas de crédito.
A política do Banco do Japão está mais para aquele filme de Kurosawa, "Kagemusha", cuja máxima era "a montanha não se move".

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