São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Dar o sangue
VANDERLEI CORDEIRO DE LIMA
Treinamos em altitude para chegar a Atlanta com melhores condições físicas. Essa preparação já foi feita em outras maratonas que disputei. É um trabalho que todo maratonista faz. Apesar de o clima aqui ser muito diferente, o importante é você estar bem fisicamente. E eu estou bem. Estamos em Atlanta há 15 dias, mas se tivéssemos chegado antes, teria sido melhor. Agora, é ver na prova. Domingo passado, assisti à maratona feminina. Elas correram com temperatura amena o que facilitou para que o tempo da prova fosse bom. Não dá pra fazer previsão de como vai ser a prova hoje. Fica difícil até dizer qual a tática que vou adotar. A princípio, vou correr na retaguarda do primeiro pelotão, tentando acompanhá-lo de qualquer maneira. Isso vai depender do ritmo. Não dá para fazer um trabalho de equipe. Como eu, o Luiz e o Diamantino (dos Santos) têm chances, cada um tem que fazer sua corrida. O que vai contar muito é o percurso. As outras maratonas que disputei foram praticamente planas. Esse percurso só pode ser comparado com o trecho final da Maratona de Nova York. É muito irregular. Essa é uma maratona que não tem favorito, não há como apontar um. Com certeza, vai ser a maratona mais forte que disputo na minha carreira. Também vai ser a maratona olímpica mais forte da história. Os campeões das últimas grandes maratonas vão estar participando. Estou encarando como uma grande chance. É a prova mais importante da minha vida. Estou tranquilo. Tô bem relaxado. É importante não ficar ansioso. Hoje, a gente vai "dar o sangue". A gente tem percebido que os adversários têm nos observado muito, principalmente os espanhóis. Três brasileiros incomodam muita gente. Não vi a cor do dinheiro do COB (Comitê Olímpico Brasileiro). A gente ia receber R$ 4.000, metade na preparação e o restante após a Olimpíada. Era um dinheiro importante. Dizem que foi depositado na federação de atletismo, mas na minha mão não chegou. Se o dinheiro foi liberado, veio muito tarde. As despesas antes de Atlanta foram pagas pela Funilense, minha equipe. Não tem problema, o importante é que a gente tá aqui. E hoje, vamos dar o sangue. Texto Anterior: Zagallo vê 'fecho de ouro' na conquista do bronze Próximo Texto: Bronze amargo Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |