São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Água do mar pode ter sido diferente

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Admite-se, geralmente, que a composição química da água do mar não tem variado desde a implantação da vida na Terra. Essa opinião é contestada por Lawrence Hardie, da Universidade Johns Hopkins (EUA), na revista "Geology", em março.
Segundo Hardie, a atual constituição da água oceânica começou a definir-se há 24 milhões de anos e, de então para cá, tem sofrido grandes variações. Equilíbrio salino igual ao atual só teria sido alcançado uma vez, há 550 milhões de anos.
Baseia-se Hardie no estudo de antigos arenitos e evaporitos (rochas formadas a partir dos depósitos deixados pela água que se evapora).
A nova hipótese tem sido objeto de muita controvérsia, mas vários cientistas concordam com a variação da proporção do potássio, cálcio, magnésio e outros íons em arenitos e evaporitos conforme a idade deles. Advertem alguns, todavia, que a variação ocorre nas rochas, e não na água que os originou.
Hardie sustenta que a química da água do mar é controlada pela atividade das cristas do meio do oceano -verdadeiras montanhas submarinas- que produzem a crosta terrestre nova, deixando brotar o magma subjacente que, ao esfriar, produz rocha basáltica que se estende a partir da crosta.
As cristas possuem fontes hidrotermais, de origem vulcânica, que jorram água quente, enxofre e outros íons. Pequenas variações nessa água poderiam, diz Hardie, modificar a constituição da água do mar.
Por meio do basalto formado e espalhado quando da criação da crosta nova, a água do mar filtra e provoca modificações na rocha que acaba se transformando em outra, de natureza metamórfica. Esse processo acarreta retirada do magnésio da água e retorno do cálcio e do potássio. Essa água alterada reaparece nas fontes hidrotermais.
As variações da água do mar ocorrem em períodos. Atualmente, atravessamos período de inatividade nas cristas. A água está relativamente pobre em cálcio e potássio, ao mesmo tempo que rica em magnésio.
Mas, durante o Cretáceo, com a produção mais ativa de crosta, tornou-se mais ativa a circulação nesse sistema, o que resultou em maior riqueza de cálcio e de potássio e pobreza em magnésio. As informações deste artigo foram antecipadas por Michael Bond na "New Scientist".

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