São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Gumiel despede-se do palco aos 82 anos

FERNANDO OLIVA

Quem for hoje ao Teatro Sérgio Cardoso, no último dia do Confort em Dança, verá a bailarina e coreógrafa francesa Renée Gumiel, 82, subir ao palco com a promessa de que esta será sua última exibição.
Renée apresenta "A Memória Gruda na Pele", de 1993. Premiado como melhor coreografia do ano pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), a mais recente criação de Renée fala sobre as marcas que o tempo imprime no corpo e na mente.
Segundo ela, a pele de uma pessoa -representando todo o corpo- contém uma história de vida. Diz ela: "Assim como os olhos, a pele guarda."
Quando fez "A Memória", Gumiel estava com 80 anos. "Foi quando pensei, pela primeira vez, em parar de dançar", diz.
Disposta a continuar atuando somente como professora de dança, atriz e coreógrafa, ela acha que, desta vez, não volta atrás na decisão.
Há nove meses que Renée não dança o espetáculo. Antes desta exibição no Comfort, a coreografia foi apresentada pela última vez num festival de dança em Bento Gonçalves (RS).
Acrobacia
Sem esconder seu idealismo -mas sem citar nomes-, Renée crítica o exibicionismo técnico que tomou conta de algumas companhias. "Não somos acrobatas, somos artistas", diz.
No espetáculo de hoje, promete mostrar um estilo muito pessoal, calcado em 60 anos de experiência e na essência de sua dança.
Sem modéstia, diz ter horror a rótulos, não cita influências nem compara seu trabalho com o de outros coreógrafos. "Meu estilo é o de Renée."
Tantas décadas sobre o palco não deram a Renée Gumiel o direito de transformar em coreografias sua experiência e idéias recentes.
Reclamando como uma iniciante, ela se diz cheia de projetos, mas cansada de pedir dinheiro a empresários. "Estou farta de não poder pagar os bailarinos", afirma. "Acho que já conquistei, com meu trabalho, o direito de receber para poder criar."
Stravinsky e Cocteau
Se trajetórias profissionais e pessoais correspondessem a dinheiro para produzir, Renée talvez fosse uma das mais produtivas coreógrafas da dança brasileira.
Antes de chegar ao Brasil, em 1957, ela já havia dançado no teatro Champs Elysées, em Paris, num balé sob regência de Igor Stravinsky.
Em 1938, foi dirigida por Jean Cocteau em "Les Enfants Terribles". Depois de chegar ao Brasil, resolveu passar uma temporada na Europa, onde estudou música eletrônica com Stockhausen.
Formada em filosofia, foi uma das alunas do psicanalista suíço Carl Jung num curso de especialização.
Já em 1964, ajudou a quebrar com a ainda persistente tradição do balé clássico no Brasil, criando a Companhia de Dança Contemporânea Brasileira.

Evento: homenagem a Renée Gumiel ("A Memória Gruda na Pele")
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 011/288-0136)
Quando: hoje, 21h
Quanto: R$ 25

Texto Anterior: Segurança e atendimento às vítimas são precários
Próximo Texto: Parceiro é 52 anos mais novo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.