São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Maria Egipcíaca:

DO MEU FOGO MORRO

(Fala) Não há fogo de sol nascente,
não há fogo de sol ardente
que se compare à labareda minha.
Olha os meus braços que seguem na minha frente,
finas cordas de seda muito seguras,
olha o meu vasto cabelo sombrio,
que é uma vela redonda de noite e de vento
(Canta) Olha o meu corpo como um navio
cortando as horas escuras
e a louca espuma fosforescente...
Olha na minha boca o mel das tamareiras...
Voz mística:
(Canta) Cala-te, Maria,
faze da tua beleza
uma estrela acesa,
enquanto esperas a luz do dia...
(Fala) Minhas pernas são altas, leves e ligeiras
são minhas pálpebras tendas franjadas
e a sombra das caravanas se deita nas minhas olheiras.
Há nos meus olhos verdes luas levantadas
que escutam passar sedentas feras.
Voz mística:
(Canta) Que vens fazer em Alexandria,
Maria do Egito?
(Canta) Olha como estremeço e palpito!
Vi meu rosto na prata brilhante:
minha curva narina nervosa
é uma concha de seda, é uma rosa...
Minhas mãos são dois ramos de lírios fechados,
minha voz vem de um mundo de púrpura e açucena,

Trecho de "Oratório de Santa Maria Egipcíaca", de Cecília Meireles

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