São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Leilão de obras roubadas pelos nazistas ajuda vítimas da guerra

Do "The Independent"
de Londres

EMMA DALY

Obras de arte roubadas pelos nazistas de judeus austríacos durante a Segunda Guerra Mundial serão vendidas, ainda este ano, para beneficiar as vítimas do Holocausto.
O anúncio foi feito na segunda-feira passada, em Londres. No fim-de-semana anterior o governo britânico havia anunciado que vai investigar informes segundo os quais ouro no valor de milhões de dólares, roubado pelos nazistas, teria sido dividido entre os Aliados depois do fim da guerra.
Segundo a casa de leilões Christie's, cerca de mil objetos serão vendidos por estimados 2,3 milhões de libras esterlinas (o equivalente a US$ 3,5 milhões).
O dinheiro irá para vítimas judias e não judias das câmaras de gás do regime nazista.
Quadros, tapetes, tapeçarias, mobília, armas, armaduras, moedas e livros se encontram armazenados há mais de 40 anos num mosteiro do século 14 em Maurbach, na Áustria.
Originalmente esses objetos faziam parte de uma coleção muito maior que foi entregue pelas forças norte-americanas ao governo austríaco, após o final da guerra, sob a condição de que todos os esforços fossem feitos para encontrar seus proprietários.
As repetidas tentativas realizadas para localizar os donos ou seus familiares resultaram na devolução de mais de 10 mil objetos.
Mas, no ano passado, o Parlamento austríaco decidiu transferir a propriedade do restante, cujos donos não foram localizados, para a Federação de Comitês Judaicos Austríacos.
Esta, por sua vez, criou um comitê internacional encarregado de supervisionar a distribuição dos fundos resultantes do leilão que será promovido. A Christie's vai leiloar os objetos em Viena, nos dias 28 e 29 de outubro.
Inquérito
Enquanto isso, o ministro britânico das Relações Exteriores, Malcolm Rifkind, concordou em abrir um inquérito "pleno e imediato" para investigar as alegações de que, em 1946, os Aliados e o governo suíço teriam feito um acordo para a partilha dos objetos apropriados pelos nazistas, incluindo centenas de milhões de dólares em ouro provavelmente roubado das vítimas do Holocausto e depositado em bancos suíços.
Com a divulgação de documentos mostrando que o governo suíço pagou aos aliados 375 milhões de francos suíços (o equivalente a US$ 90 milhões, na época) em troca do ouro e outros bens em mãos de alemães na Suíça, o deputado trabalhista Greville Janner pediu ao governo britânico que busque informações relativas ao fato nos arquivos dos ministérios das Relações Exteriores, do Tesouro e da Defesa do Reino Unido.
O caso é apenas um aspecto da longa batalha com o fim de obter justiça para os judeus vitimados pelo Holocausto e outras pessoas da Europa ocupada que foram roubadas pelos nazistas.
Segundo um documento dos Aliados, o ouro roubado estaria estimado em quase US$ 2 bilhões em moeda atual. O inquérito deve determinar "quanto dinheiro o Reino Unido ganhou nessa transação e o que foi feito com esse dinheiro", disse Janner.
Uma porta-voz do Fundo Educacional do Holocausto disse que agora que existem indícios de que os serviços britânicos de inteligência talvez possuam informações a respeito da transação, o maior objetivo imediato do fundo é conseguir ajuda do governo.
A porta-voz disse: "Não sabemos como esse dinheiro foi gasto. Talvez seja dinheiro ligeiramente suspeito, mas precisamos saber mais. Não podemos adivinhar o que aconteceu. O importante nesse processo todo é descobrir o que realmente aconteceu. Também queremos saber por que o governo inicialmente declarou não saber nada a respeito, e por que mudou de idéia agora".
Para ele, "o aspecto mais importante em jogo é o moral. Na verdade, mal começou o processo no Reino Unido. É por isso que buscamos ajuda junto ao governo."

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Os EUA adotam projeto "Grande Brasil"
Próximo Texto: Duração da lâmina de barbear é desconhecida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.