São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Pai de 41 filhos; só restam 19

PAULO MOTA
O pescador aposentado Manoel Justino de Almeida, 66, a comemoração do Dia dos Pais acontece em dois atos: a hora do almoço ele passa ao lado da família que constituiu com Maria Ferreira de Almeida, 63, com quem teve 21 filhos. O jantar é compartilhado ao lado de Maria Odaíza Gonçalves, 56, mãe dos seus outros 20 filhos.
As duas famílias de Almeida moram no bairro Morro de Santa Terezinha, em Fortaleza (CE).
A história das famílias de Almeida é um exemplo vivo da alarmante taxa de mortalidade infantil no Nordeste. Dos 41 filhos do pescador, apenas 19 conseguiram sobreviver. Os outros morreram antes de completar dois anos, de doenças como sarampo, infecções ou diarréias.
Maria tornou-se sua "mulher oficial" em 1959, num casamento firmado no "padre e no civil", segundo conta Almeida. Três anos depois, quando já tinha três filhos, ele iniciou o relacionamento com Odaíza.
Semi-analfabeto, desconhecedor de regras mínimas de planejamento familiar, o pescador foi gerando filhos nos intervalos dos dias de solidão que passava pescando no mar. Entre 1960 e 1981, ano em que suas duas mulheres fizeram ligações de trompas, Almeida teve em média dois filhos por ano.
Essa fertilidade é explicada por Almeida como fruto de uma mistura de "tesão e amor" que ele sente por suas duas mulheres, com um detalhe a mais: "Para mim, botar mais um filho no mundo é uma forma de mostrar que eu sou muito macho".
Os poucos recursos financeiros ganhos no trabalho diário dos 33 anos em que viveu como pescador sempre foram divididos igualitariamente entre as duas famílias. Mesmo sendo pobres, nunca faltou comida na mesa.
Almeida se define como um pai liberal, que permite tudo, menos que seus filhos não frequentem uma escola. "Eu só desenho meu nome e sei que a pior coisa do mundo é uma pessoa ser analfabeta. Eu sempre digo aos meus filhos que a melhor herança que um pai pode deixar é a educação", afirmou.
Ele se julga bem sucedido na criação dos filhos. Afirma que se nenhum deles "deu para ser bandido ou prostituta" é porque tiveram "mães maravilhosas".
Suas mulheres aceitam a bigamia com resignação. Odaíza afirma que a convivência com Maria é pacífica, mas "nem fede nem cheira". As duas moram no mesmo bairro, sabem da existência uma da outra, cumprimentam-se quando se cruzam, mas nunca conversaram.
Os filhos das duas famílias convivem sem rancor. Quando Almeida completou 60 anos, todos os 19 filhos se reuniram e fizeram uma festa surpresa que lotou a casa de um deles.
Almeida vive hoje dos R$ 112 de sua aposentadoria e complementa sua renda com cerca de R$ 200 mensais que ganha como flanelinha.

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