São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Cada pai, um pai

Pai que é mãe, mãe que é pai, pai jovem, tardio e padrasto contam suas relações com os filhos

O pai solteiro
Os filhos do empresário Ramiro Alves da Rocha Cruz, 49, tinham 3 e 4 anos, quando ele se separou da mulher e ficou com a guarda das crianças.
Na mesma época, sua empresa foi à falência. "Não houve dificuldades. Precisava de alguém para me ajudar a tomar conta deles, o resto eu cuidava. Queria suprir a falta que a mãe deles fazia."
Alexandre e Ramiro Jr. têm hoje 23 e 22 anos. Cruz se casou de novo há quatro anos e tem outra filha, Ana, 3.

Tempo de ser pai
Pai perto dos 60 anos. Até bem pouco tempo, o empresário Eron Alves de Oliveira, 61, nem sequer pensava em se casar quanto mais em ter filhos.
Já tinha até decidido se tornar um "solteirão". Isso até encontrar a norte-americana Alisson (hoje Alves de Oliveira), 26, no Michigan, há sete anos.
"Foi amor à primeira vista, casei-me com ela, trouxe-a para o Brasil e tive duas filhas, Natasha, 6, e Amanda, 4", disse Oliveira.
"Elas mudaram a minha vida, me deram novo entusiasmo, mas não acho que sou um pai tardio. Antes, talvez não fosse tão maduro", diz.

Mãe que é pai
A publicitária Márcia, 39, e a jornalista Regina, 32, vivem juntas há oito anos. Isabela, 8, é filha de Regina. Os nomes são fictícios. "O preconceito é real", afirmou Regina.
O pai de Isabela está sempre presente, mas é o casal de lésbicas que "impõe limites" à menina. "Quem decide isso ou aquilo sou eu", diz Regina, que ainda não contou à filha sobre sua relação.

Pai independente
O cantor Latino sempre teve o sonho de ser pai de uma menina."Queria uma filha para regravar aquela canção famosa dos anos 60. No ano passado, cansado de esperar por um relacionamento sério, resolveu propor a sua ex-namorada que tivessem uma produção independente.
Ela topou e hoje Latino é pai de Diana, um bebê de 4 meses.

Quase um pai
O motorista particular Norival do Padro, 47, é quase um pai para Maria Eugênia, 8, Pedro, 6, e Rafaela, 4. Ele passa o dia inteiro com essas crianças. É ele quem as leva à escola, às festas, ao cinema, faz compras etc.
"Prado é fundamental para nós. Se eu não estou presente, meus filhos ficam tranquilos com ele. O motorista não é mais apenas um motorista, tornou-se um secretário", afirma a mãe, a arquiteta Nórea De Vitto.
O pai, o publicitário Cássio Clemente, concorda: "Ele não substitui o pai, mas é um exemplo para as crianças".
O motorista diz que tenta sempre fazer o melhor. "Tenho muita afeição pela crianças e sei que elas também gostam de mim."

O "pai-bebê"
Carlos Roberto Guimarães tinha 16 anos quando soube que sua namorada, então com 17, estava grávida. "Foi um choque. Sou o caçula em casa, tenho três irmãos casados, nenhum deles tinha filhos, fui o primeiro", diz.
Passado o choque, a primeira providência foi arrumar um emprego. Depois, decidir não casar. "Continuo namorando a Flávia, mas só pretendemos casar daqui a cinco anos."
Giovanna, a filha de Guimarães e Flávia, tem hoje dois anos e mora com a mãe. "Fico com ela umas cinco horas por dia e nos finais de semana", diz.
Guimarães não acha que a filha tenha mudado sua vida. Começou a trabalhar, mas não deixou de estudar e ainda mora com a família.
"Perdi algumas horas de sono, fiquei mais maduro e já não saio muito com os meus amigos. Mas não me arrependo de nada. Não sabia que era tão bom ter uma filha. Ela veio na hora certa."

Rodeado por mulheres
"Tenho um exército feminino em casa", diverte-se Iso Milman, 46. Fora a mulher, ele tem nada menos que quatro filhas: Pérola, 21, Suzana, 20, Júlia, 17, e Diana, 12. "Gostaria de ter passado pela experiência de criar um filho homem, para ter contato com uma pessoa mais parecida comigo".
"A gente sempre tem aquela idéia de que o filho homem levaria o nome da família. Se bem que a gente vive em outro tempo..."
Iso afirma que, como já estão na adolescência, as filhas já têm namorados: "Às vezes me sinto isolado: tem um tititi feminino do qual eu não faço parte"...

Paternidade virtual
Fernando Azpeitia (nome fictício), 27, poderá ser pai de cinco bebês sem nunca saber disso. Ele resolveu doar esperma para o banco de sêmen do Hospital Albert Einstein.
Aprovado em todos os testes, Fernando já pode ser escolhido por até cinco mulheres que gostem de sua ficha, com informações sobre seu tipo de pele, cabelos, ascendência e hobbies.

O "pai-padrasto"
"O pai sou eu", garante Vicente D'Agostini, 71, padrasto de Rosângela e Roseli. "Permiti que elas estudassem e casei as duas". Vicente, que tem um filho do primeiro casamento, diz que foram as filhas que ele não teve. "Elas sempre gostaram de mim, e eu não queria que elas me apresentassem como 'o amigo da minha mãe'".

Eu, pai?
Armando Fontenele Júnior, 27, não pretende ter filhos. Foi casado por três anos: "Minha mulher fazia uma pressão muito grande para termos um filho. Foi a gota d'água para nos separarmos. 11 meses depois ela estava morando com outro e deu à luz uma filha".
"Em primeiro lugar, não tenho paciência com criança, não ia ser legal nem para mim e nem para o meu filho; acredito que não daria toda a atenção necessária."
Armando também é reticente porque considera que filho tira um pouco da liberdade: "Não ia poder sair quando quisesse. Onde for, tem que levar". "Meu filho iria receber um mundo em condições sociais e ambientais piores do que eu recebi", acrescenta.

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