São Paulo, segunda-feira, 5 de agosto de 1996 |
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Bonito Oliva exemplifica sua diáspora
CELSO FIORAVANTE
Deveria escolher seis artistas da Europa Ocidental para a seção Universalis do evento. Escolheu sete, entre eles alguns dos maiores nomes das artes contemporâneas, como a anglo-iraniana Shirazeh Houshiary, o franco-sérvio Braco Dimitrijevic e o italiano Luciano Fabro; alguns discutíveis, como o dublê de artista plástico e cineasta Wim Wenders e seu dileto, o italiano Enzo Cucchi. Em entrevista à Folha, por telefone, de Roma, Bonito Oliva explicou sua tese e justificou suas escolhas. * Folha - Você deu um título à sua seleção para a Bienal, "Diáspora 96"... Achille Bonito Oliva - A idéia do título é que nas vanguardas históricas existia uma arte como utopia e como um desejo do artista de alcançar um lugar utópico, ideal, não existente: criar com a linguagem a hipótese de um lugar de liberdade absoluta. Hoje, temos uma arte que não ocupa um espaço específico, uma geografia. Trabalha com a idéia do nomadismo, do movimento, com uma contínua contaminação, com o multiculturalismo. Folha - Ela perdeu suas raízes? Oliva - Tem raízes, mas raízes que não são mais estáticas. Pertencem à antropologia cultural do artista, a sua memória. São raízes dinâmicas, que não seguram o artista, não lhe dão uma identidade estática. Mas são raízes que são utilizadas pelo artista para representar uma posição de transição no mundo. Essa é a idéia da diáspora. É uma relação de dinamismo cultural, de sincretismo, de contaminação, de desestruturação, de utilização de todas as técnicas e linguagens possíveis. É uma idéia não geográfica. De uma parte, usa o conceito de globalização da televisão, mas é contra sua homologação. A arte é a conquista de um não-lugar e é a perda voluntária de um lugar geográfico de proveniência, porque a geografia é constrangedora, é autárquica, é limitante. Como já trabalhei com o conceito do nomadismo no movimento da Transvanguarda, pensei ter alcançado o equilíbrio teórico para exprimir a idéia da diáspora, a idéia da arte como eterno movimento e que, voluntariamente, perde o próprio lugar geográfico de origem para conquistar um não-lugar, que é mental. Folha - A escolha de dois italianos -Fabro, que está inserido na "arte povera", e Cucchi, da Transvanguarda- não supervaloriza o cenário artístico italiano? Oliva - A Itália colaborou muito com a arte também em um senso teórico. Minha idéia não foi fazer uma escolha patriótica, mas os melhores representantes do conceito da diáspora. Folha - Por que você selecionou um cineasta? Oliva - Já havia convidado Wim Wenders para a Bienal de Veneza em 93. Ele vai apresentar pinturas eletrônicas. É um cineasta que sente muito a interação das linguagens e leva a sua idéia de tempo no cinema para a pintura. Folha - Por que você escolheu artistas totalmente consagrados, como Braco Dimitrijevic, Luciano Fabro e Shirazeh Houshiary? Oliva - Os jovens terão outros espaços na Bienal, e eu precisava representar de maneira visível e segura esse meu conceito de diáspora. Mostrar que o artista que amadurece as próprias soluções consegue realizar esse conceito e confrontar um tema que é trágico historicamente, mas também é uma escolha linguística. Texto Anterior: Americano faz mixagem do CD Próximo Texto: Conheça artistas e obras Índice |
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