São Paulo, segunda-feira, 5 de agosto de 1996
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Missão impossível?

VALDO CRUZ

Brasília - Até o dia 10 de setembro, data do novo julgamento do caso Lamarca, José Gregori, amigo do presidente FHC, terá a missão de acalmar os militares.
Setores das Forças Armadas, principalmente da reserva, não concordam com o pagamento de indenização aos familiares do guerrilheiro Carlos Lamarca.
Autor da Lei dos Desaparecidos, Gregori vai tentar convencer os militares de que o julgamento não se trata de uma reparação política nem uma homenagem póstuma.
A missão do chefe de gabinete do Ministério da Justiça não é nada fácil. O episódio é considerado um tabu dentro das Forças Armadas.
Na semana passada, o governo respirou aliviado depois que a Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos adiou o julgamento do processo Lamarca.
O Palácio do Planalto avalia que ainda não existe clima nos quartéis para se decidir o caso sem provocar reações indesejáveis.
A esquerda diz não ter dúvidas. O guerrilheiro foi morto quando estava sob a guarda do Estado, o que daria aos seus familiares o direito a uma indenização.
Os militares dizem o contrário. Lamarca, considerado por eles um desertor, foi morto em combate e não estava sob a proteção do Estado.
Ex-guerrilheiro, o hoje deputado José Genoino diz que os militares da reserva, de onde estão partindo as maiores reações, têm de entender que o que está em jogo não é uma reparação política, mas humanista.
"Cabe ao Estado proteger a vida humana. Se o Estado tinha condições de manter uma pessoa viva, mas acabou executando-a, tem de indenizar."
A Comissão dos Mortos e Desaparecidos terá a tarefa de responder a essa pergunta no caso Lamarca, seguindo critérios técnicos e não políticos.
Os militares terão a responsabilidade de acatar a decisão da comissão, seja ela qual for.

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