São Paulo, segunda-feira, 5 de agosto de 1996
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A vez dos candidatos

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - A Olimpíada de Atlanta foi para o espaço. Parece que, nela, o Brasil teve a sua melhor apresentação olímpica -em que pesem o fracasso do nosso futebol e a tradicional mediocridade na classificação geral.
Teremos agora o também tradicional desfile de candidatos a vereador na TV. Dou muita importância aos pretendentes à edilidade. Para ser franco, gosto deles, de todos, sem discriminar partidos, idéias, promessas e caras.
Admito que o pessoal da mídia, da publicidade e dos espetáculos desprezem esses candidatos que roubam espaço e tempo nos veículos de comunicação. Volta e meia, é feita uma onda contra a Justiça Eleitoral, pedindo providências contra a turma por tudo, pelas gravatas, pelo corte do cabelo, pelos descalabros ideológicos e pelos erros de sintaxe.
Penso de outro modo. Afinal, os cidadãos que desfilarão pela TV e pelo rádio, prometendo ruas asfaltadas, postos de saúde, escolas, bicas d'água, empregos e moralidade administrativa são até mais honestos e sinceros do que os candidatos presidenciais a que estamos habituados.
A diferença entre um pretendente a vereador de Porciúncula e um pretendente à Presidência da República é apenas de grau, não de gênero. Olhando com isenção o espetáculo eleitoral, verificamos que de ano em ano a representatividade piora. Em todos os níveis. Uma decadência cívica, intelectual e até mesmo moral se oferece à escolha dos demais cidadãos.
A prudência (e talvez a justiça) me obrigariam a acrescentar o lugar-comum: "salvo honrosas exceções". Mas nenhum candidato, enquanto candidato, se excetua desse quadro desolador. Temos o exemplo na mão espalmada de um professor universitário, com a qual prometeu o que não pensava cumprir. Por essas e outras, me distraio e até me comovo com os candidatos a vereador que me prometem aquilo que, se pudessem, me dariam mesmo.

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