São Paulo, terça-feira, 6 de agosto de 1996
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Ex-líder comunista é candidato do PPB

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Manoel Jover Teles, 76, ex-dirigente comunista acusado de traição pelo PC do B, é candidato a vereador pelo PPB em Arroio dos Ratos (RS).
Teles nega que, em 1976, tenha informado aos órgãos de repressão o local de uma reunião do PC do B -uma casa na Lapa (zona oeste de São Paulo).
O ataque de agentes resultou na morte de três pessoas da cúpula do partido. Conhecido em Arroio dos Ratos como Manolo, Teles disse que já teria se matado se não tivesse a "consciência tranquila".
Afirmou que quem cometesse uma traição como a que lhe é imputada mereceria ser morto.
"Para mim é uma tristeza muito grande ser acusado de traição, pois militei mais de 30 anos, sendo uma das principais figuras do partido. Sofro muito ao recordar essas coisas", afirmou.
Ele teria traído o PC do B em troca da sua vida e da de sua mulher e filha. "Se eu fosse trair pediria para me botarem não sei quantos milhões na Suíça. Mas moro em uma casa modesta, alugada por R$ 200. Eu e minha mulher vivemos de aposentadoria do INPS."
Clandestino
Teles viveu como clandestino após a queda da direção do PC do B na Lapa. Retornou há cinco anos a Arroio dos Ratos, reassumindo sua identidade.
Nos "santinhos" distribuídos aos eleitores, nos quais é identificado pelo apelido, Teles diz ser formado em filosofia, história e economia. Ele declarou ter feito estudos nessas áreas na ex-URSS.
Teles se filiou este ano ao PPB -originário da corrente que apoiava o regime militar. "No interior, sigla não vale nada. O que vale são os homens que compõem a sigla, do ponto de vista de honestidade, de dignidade", afirmou.
Para Teles, a esquerda "entrou em confusão" com o fim da URSS e não tem uma "proposição" a oferecer. No entanto, ele disse achar que, no futuro, o socialismo triunfará.
O envolvimento de Teles no episódio da Lapa não é conhecido em Arroio dos Ratos.
Para o presidente do PPB local, Joel Hein dos Santos, 37, "o Manolo é uma pessoa ilibada, muita culta e benquista na cidade".

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