São Paulo, terça-feira, 6 de agosto de 1996
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MST ameaça invadir terra produtiva de devedor do BB

Para ministro, intenção é questão de segurança pública

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As terras produtivas de devedores do Banco do Brasil são o novo alvo do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
A intenção foi anunciada ontem por João Pedro Stédile, coordenador do MST. "Não interessa se as terras são produtivas ou não. Se os proprietários estiverem inadimplentes com o BB, vamos invadir", disse Stédile, em reunião do Comunidade Solidária em Brasília.
Até então, o MST só vinha invadindo latifúndios improdutivos ou terras devolutas (do Estado).
O líder do MST recorreu a um ditado popular para justificar as invasões: "Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão".
Entre as fazendas com mais chances de serem invadidas, Stédile citou propriedades localizadas na região do Vale do São Francisco -entre Pernambuco e Bahia. Para ele, as invasões são o meio mais eficaz para pressionar o governo a agilizar a reforma agrária.
Segundo Stédile, o presidente Fernando Henrique Cardoso ainda não fez "quase nada" do que prometeu quando tomou posse. O líder disse que a morosidade é fruto de "má vontade política ou incompetência administrativa".
Segurança pública
O ministro Raul Jungmann (Política Fundiária), que também participou da reunião, afirmou que a ameaça é uma "questão de segurança pública" e deve ser combatida pelas polícias estaduais.
Para Jungmann, o MST está prestando um "desserviço à reforma agrária". Segundo ele, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) está comprando 80 fazendas de devedores do BB. Outras 220 estão sendo analisadas. "Se o MST invadir as terras, vai dificultar a negociação."
Na quinta-feira, o Incra deve entregar aos sem-terra a primeira fazenda comprada do BB para reforma agrária, no Mato Grosso, onde devem ser assentadas 300 famílias.
Jungmann disse que não tem como agilizar a compra de fazendas do BB porque muitas estão sub judice. "Quero as terras, mas tudo tem de ser feito dentro da lei."
Jungmann e Stédile voltaram a discordar sobre os assentamentos em 96. O Incra diz que assentou 20 mil famílias. Para o MST, foram apenas 10 mil. A meta do governo é assentar 60 mil famílias em 96.

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