São Paulo, terça-feira, 6 de agosto de 1996
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Olimpílulas (Fim)

JUCA KFOURI

Os Jogos de Atlanta acabaram bem para o Brasil muito mais por causa do talento de um punhado de atletas do que devido a uma política esportiva com pé e cabeça.
Aliás, está mais do que na hora de se estabelecer tal política, e a primeira pergunta que o país precisa responder é se quer ser mesmo uma potência olímpica, ou melhor, se deve ser.
É isso mesmo. A se julgar pelo quadro de medalhas, por exemplo, a Suécia -paradigma para tantas coisas- não é (acabou em 29º lugar, quatro colocações abaixo do Brasil). E não é porque não quer, porque acha que, antes de mais nada, deve ser um país que dê oportunidade à prática esportiva generalizada, algo menos estimulante dos ardores nacionais a cada Olimpíada mas, sem dúvida, muito mais saudável permanentemente.
Nosso modelo está errado, baseado no respaldo das estatais, boa parte delas monopolistas, ou seja, sem maiores razões para investir em propaganda e marketing.
Vale repetir que a política governamental para o esporte num país como o Brasil só pode ter um objetivo, que é o da massificação. Se daí, da quantidade, se puder extrair qualidade, tanto melhor, bela consequência e ponto final.
O investimento nos esportes de alto rendimento pode perfeitamente ficar sob responsabilidade da iniciativa privada, sem necessidade de nenhum incentivo fiscal, por ser negócio altamente rentável.
Ou alguém vê sentido, por exemplo, em se dar incentivos fiscais à Parmalat por investir como investe no Palmeiras?
Que o dinheiro público reverta para a população comum, e que os dirigentes esportivos se profissionalizem para poder aparecer como interlocutores competentes e confiáveis para a iniciativa privada parece ser o melhor caminho.
Mais que medalhas, a saúde do povo é o que deve interessar, sem negar que cada vitória significa um estímulo que não deve ser desprezado, razão pela qual o Brasil tem motivos para estar satisfeito com seu desempenho.
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Correção 1: ao contrário do que escrevi domingo, a seleção norte-americana de basquete feminino É sim o equivalente ao "Dream Team 3".
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Correção 2: ao contrário do que saiu ontem, o bronze, embora inédito e comovente, NÃO fez justiça às meninas do vôlei, que mereciam prata.
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Nesta quinta-feira, sem pompa e sem circunstância, quase clandestinamente, começa o 26º Campeonato Brasileiro, fruto da conhecida competência da CBF que, agora, deu até para criticar a organização do COI.
Não é edificante?

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