São Paulo, terça-feira, 6 de agosto de 1996
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DESPOUPANÇA POPULAR

A quantidade sem precedentes de reservas internacionais acumuladas pelo Banco Central continua funcionando, não apenas como âncora, mas como um autêntico "quebra-mar" que parece suficiente para consolidar a inflação baixa e afastar as ondas de especulação contra o real. Mas aos poucos nota-se a insuficiência de outros elementos que permitiriam enxergar mais longe.
É o caso das cadernetas de poupança, cujos saques superaram os depósitos em R$ 4,5 bilhões no primeiro semestre. No período, foram encerradas 3 milhões de contas.
Durante o mesmo lapso de tempo houve aumento de depósitos em outros instrumentos financeiros, como os fundos de curto prazo (até 60 dias). O que preocupa são as explicações oferecidas pelas autoridades.
Para Ronaldo Paiva, chefe do Departamento de Estudos Especiais e Acompanhamento do Sistema Financeiro do BC, o que provavelmente ocorreu é que os pequenos e médios aplicadores sacaram para comprar à vista (fugindo dos altos juros do crediário) ou para saldar dívidas. Os dados mostram queda nos saldos das contas até a faixa de R$ 4.000.
Levando-se em conta que os indicadores de inadimplência continuam elevados, uma conclusão preliminar é a de que a crise de crédito é mais difícil de superar do que se imagina. Afinal, corroída a poupança de baixa renda, a recuperação posterior torna-se mais difícil, mesmo que a oferta de crédito aumente.
O que talvez esteja ocorrendo compara-se à trajetória do balão que conseguiu sobrevoar montanhas altas, mas que agora sem ar não consegue evitar a queda num pântano de onde é difícil escapar.
Para os poupadores de alta renda quase nada mudou e houve até melhora, já que os fundos de curto prazo vêm remunerando com taxas sistematicamente superiores às da poupança. Ou seja, a gerência do setor nos últimos meses talvez tenha contribuído para concentrar um pouco mais a renda dos brasileiros.

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