São Paulo, quinta-feira, 8 de agosto de 1996
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Desabrigados não sabem para onde ir

Prefeitura não havia definido transferência ontem

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois do incêndio o clima era de revolta e desinformação entre os moradores dos alojamentos provisórios da prefeitura.
As 43 famílias que ficaram desabrigadas foram acomodadas na creche do abrigo queimado.
Cerca de 20 famílias que moravam em outros alojamentos decidiram abandonar os locais e passaram a noite ao relento, com medo de novos incêndios.
A desempregada Quitéria da Silva, 21, armou sua barraca no canteiro central da avenida Nagib Farah Maluf, em frente ao alojamento que pegou fogo. O chão da casa improvisada estava forrado com colchões doados por moradores do bairro.
Geladeiras e dois estrados de cama formavam as paredes da casa, coberta com um grosso plástico preto.
"Foi mais seguro passar a noite no frio do que no alojamento, que pode pegar fogo a qualquer momento."
Casa definitiva
A empregada doméstica Vera Lucia Bezerra, 34, também optou por se mudar para o gramado do canteiro central da avenida. Grávida de oito meses, com sete filhos e viúva, ela disse que ainda não sabe para onde ir.
"A prefeitura fica enrolando e não dá uma casa definitiva para a gente", afirmou.
O ajudante de transporte Mário Miguel da Silva, 47, que morava com a mulher e os cinco filhos no alojamento incendiado, passou a noite na creche.
"A noite foi horrorosa. Ficamos todos amontoados uns em cima dos outros", afirmou ele.
Desinformação
Os moradores do alojamento passaram o dia sem saber para onde iriam ser transferidos.
Algumas assistentes sociais da prefeitura informavam que eles seriam deslocados para contêineres em São Miguel Paulista ainda ontem.
Outras afirmavam que a transferência seria realizada hoje para um local ainda desconhecido.
No final da tarde de ontem, a confusão aumentou, com a chegada ao local de caminhões com seis contêineres da prefeitura.
Os motoristas não sabiam onde descarregar os abrigos improvisados. As assistentes sociais nem sabiam que a prefeitura havia mandado os contêineres.
A vendedora ambulante Roseli dos Santos Costa, 43, reclamava do critério para a escolha das famílias que seriam "beneficiadas" com os contêineres. "Estão querendo colocar gente que nem perdeu a casa nos contêineres."
Até a conclusão desta edição, os contêineres continuavam sobre os caminhões, e muitas famílias, ao relento.

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