São Paulo, quinta-feira, 8 de agosto de 1996
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O SUCESSO DO RODÍZIO

A elevada adesão ao rodízio de automóveis na região metropolitana de São Paulo é um sinal de que a população está disposta a sofrer alguns desconfortos, se não só pelo combate à poluição, pelo respeito a uma regra que, afinal, é de interesse comum.
Esse indício animador de que uma sociedade que parece esgarçada pela insegurança social e pelo individualismo é capaz de atitudes de cunho comunitário não exime os mandatários, entretanto, de responsabilidade pelas graves insuficiências no transporte público e, de modo geral, no controle da emissão de poluentes.
O rodízio deve ter caráter emergencial. E seria de se esperar que, antes de chegar a uma medida que causa evidente transtorno cotidiano, o Estado e o município tivessem atuado com maior vigor na fiscalização dos veículos e no fomento de alternativas menos poluentes de transporte -fundamentalmente, os coletivos.
É profundamente lamentável, nesse sentido, que a prefeitura tenha decidido gastar enormes recursos em túneis que privilegiam o transporte individual em vez de associar-se antes ao Estado na expansão do metrô, que reduz o trânsito e nada polui.
Quanto ao comportamento do público, porém, uma avaliação inicial só pode ser positiva. A multa contra os infratores certamente contribuiu para que mais pessoas deixassem o carro parado. Mas, além da punição pecuniária, a idéia de que "desta vez é para valer" pode ter ajudado a criar um certo constrangimento cívico contra os eventuais infratores.
No ano passado, quando o rodízio foi voluntário, é possível que a queda na participação tenha produzido um círculo vicioso. Um sentimento de que apenas alguns poucos pagavam pelo benefício coletivo desestimulava ainda mais a adesão.
Agora, o sucesso do rodízio chega a ser mesmo surpreendente, com índices de adesão da ordem de 90%, ao menos nestes primeiros dias. Apesar do desconforto, das falhas dos governantes e da inegável precariedade desse recurso, o fato é animador.

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