São Paulo, quinta-feira, 8 de agosto de 1996
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O custo do segredo

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - Quanto custa sanear os bancos estaduais? O secretário do Tesouro Nacional, Murilo Portugal, tem uma extensa resposta a respeito. Mas não fala em valores.
Estimativas realistas dão conta que o governo federal emitirá até R$ 12 bilhões em títulos para cobrir o rombo acumulado durante anos de rapinagem nessas instituições estaduais.
Isso equivale a quase quatro vezes a arrecadação anual da CPMF, o imposto do cheque para a saúde.
Técnicos do governo têm medo de fazer previsões mais elaboradas. Acham que a cifra será utilizada eleitoralmente. Mais dinheiro para os bancos, dirá a oposição.
Nesse mar de desculpas e explicações pela metade, é didático acompanhar o raciocínio de Murilo Portugal:
1) O custo será menor do que o valor financiado. Os cerca de R$ 12 bilhões em títulos não representariam custo para o governo. "O custo vai ser a diferença entre a taxa de juros que será cobrada e aquela que o Banco Central pratica normalmente", diz Portugal;
2) O impacto da operação sobre a dívida pública será menor do que o custo. Portugal argumenta que a dívida hoje já é pública (dos Estados) e continuará sendo pública (da União);
3) Só é possível dizer se o custo é alto na comparação com alguma alternativa. "Uma alternativa seria não fazer nada. E isso talvez custasse mais", argumenta o secretário do Tesouro.
Tudo perfeito. Não fosse a insistência do governo em manter sigilo sobre os valores envolvidos.
É uma espécie de ato falho. Se a MP dos bancos estaduais é a saída correta, por que não revelar o quanto a sociedade gastará com isso? Não vale dizer que é impossível fazer previsões.
Em resumo, essa MP dos bancos estaduais pode até ser a melhor alternativa financeira. Mas a mania tucana de querer fazer tudo parecer muito melhor do que realmente é gera desconfianças inevitáveis. E logo a oposição vai chamar a MP de Proer dos bancos estaduais. Com razão.

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