São Paulo, quinta-feira, 8 de agosto de 1996
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Tudo é muito relativo

CLÓVIS ROSSI

Seul - Que me desculpem Vinícius de Moraes e os liberais de carteirinha, mas dirigismo estatal é fundamental. Pelo menos o foi (e, em menor medida, continua sendo) para o fenômeno coreano. Fenômeno, aliás, é a palavra para explicar o que aconteceu na Coréia nos últimos 35 anos.
Da ocupação japonesa (1910/45) a uma guerra civil (50/53), que o partiu ao meio, o país começou os anos 60 com renda per capita africana: US$ 87. Hoje, é européia (US$ 10.067).
É a 11ª economia do mundo e, segundo recente estudo da OCDE (o clubão dos 28 países mais industrializados do mundo), será a sétima na virada do século, mantida a atual tendência de crescimento.
Como foi possível? É claro que nunca um fator isolado explica tão tremenda transformação. Mas é unânime, entre especialistas coreanos, a avaliação de que a decolagem se deveu a políticas que, hoje, seriam consideradas pecaminosas (proteção à produção local, economia fechada, forte presença do Estado, muitos regulamentos etc).
Perguntei no Instituto de Desenvolvimento da Coréia, importante banco de cérebros estatal, se seria correto deduzir que a decolagem coreana se deveu a políticas que a sabedoria convencional moderna considera inaceitáveis.
"É verdade, particularmente para os anos 60 e 70", respondeu Joon Kyunk Park, pesquisador-sênior. "Era uma questão de sobrevivência", reforça Oh-Hyun Chang, professor de economia da Universidade Dongguk e vice-ministro para Educação Superior. Pois é. Se Chang estiver certo, hoje não se permitiria a um país tentar sobreviver, pelo menos não de forma que fuja aos cânones chamados neoliberais.
Coisa apenas do passado? Os coreanos mantêm tantas dúvidas que o jornal "Korea Times" se permite dizer, em editorial sobre as exigências de abertura da economia impostas pela OCDE para aceitar a Coréia como seu 29º membro: "A nação ficou grande demais para manter-se obcecada por somar-se a clubes de homens ricos como a OCDE".

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