São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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Um bom negócio

JANIO DE FREITAS

Nada é mais valioso hoje, em termos eleitorais, do que o disputado apoio da Igreja Universal em São Paulo -a igreja do bispo Macedo, ela e ele submetidos, há tão pouco tempo, a feroz campanha para destruí-los.
É compreensível que o apoio dos chamados evangélicos tenha valor especial para o peessedebista José Serra. Primeiro, é claro, por ser considerado como o único fator imediato para melhorar a posição que o candidato do PSDB amarga nas pesquisas. Consequência, em parte, daquele primeiro efeito, a negação de apoio evangélico aos candidatos Francisco Rossi e Celso Pitta abriria a Serra a possibilidade, por ora invisível, de chegar ao esperado segundo turno.
O grande cabo eleitoral de Serra é o governo federal, todos sabem e os dois controladores do governo, Fernando Henrique e Sérgio Motta, não escondem nem tentam ao menos disfarçar. É no governo federal, porém, que estão os obstáculos maiores para a concordância do comando evangélico. São obstáculos de papel. Pilhas de papel dividido em pastas e com a desagradável fisionomia de processos.
Processos provocados, todos, pela campanha desmoralizadora: vários na Polícia Federal, vários na Receita Federal. E girando, todos, em torno das mesmas acusações não desmontadas pelos acusados -sonegação de impostos, remessa ilegal de dinheiro para o exterior, exploração de fiéis e por aí mais.
Nada, porém, que impeça negociações. Muito ao contrário, o poder do governo federal e o problema judicial do comando evangélico são, em termos eleitorais, partes do mesmo todo, vulgarmente conhecido por moeda política.
Se um pediu ou se o outro ofereceu, não está claro. O importante é que, em uma das instâncias da negociação, está adiantada a concordância em que o valor do apoio ao candidato peessedebista é igual ao valor do esvaziamento, discreto mas seguro, dos processos na PF e na Receita. Pelo menos os mais cabeludos.
O diabo é que nem um negócio assim, afinal bom para as duas partes, está protegido dos desmancha-prazeres. Diz-se que o problema é o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, que, sem apreço por manobras políticas, não aceitaria (ou, dizem outros, já recusou) dar sua colaboração.
Mas as comunicações continuam ativas, buscando o acordo a qualquer preço.

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