São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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'Gambiarras' continuam em alojamentos

ANDRÉ LOZANO
FABIO SCHIVARTCHE

ANDRÉ LOZANO; FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

Desabrigados começam a ser transferidos para contêineres dois dias após a tragédia que deixou dez mortos

Ontem, dois dias após o incêndio que matou dez pessoas no alojamento da prefeitura na Cohab José Bonifácio, em Itaquera (zona leste de São Paulo), permaneciam as ligações elétricas irregulares nos quatro galpões não atingidos pelo fogo.
Os fios elétricos nos corredores dos abrigos, ligando cômodos opostos, continuavam à mostra. Buracos de chuveiros arrancados da parede ainda ostentavam fios desencapados. O mesmo ocorreu com quadros de força destruídos.
Além disso, botijões de gás ainda eram encontrados nos cômodos dos desabrigados.
"Não fizeram nada nesses dias para melhorar nossa segurança", disse a moradora Marinalva Menezes, 31, lavando roupa na área de serviço do bloco D, iluminada por uma lâmpada de 500 watts presa por uma gambiarra.
"Ninguém dorme mais de três horas por noite depois do incêndio de terça-feira. A gente acaba acordando de madrugada, com medo de novos focos de incêndio", disse Rosineide Madalena da Silva.
Interdição
O secretário municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano, Lair Krahenbuhl, afirmou que pode interditar os alojamentos, caso o relatório elaborado por técnicos do Contru (Departamento de Controle e Uso de Imóveis) comprove que não há condições de habitabilidade nos abrigos.
Na vistoria realizada ontem, foram examinadas as proteções elétricas e o acondicionamento dos botijões de gás, além de outros itens de segurança, segundo o secretário.
"Se houver risco iminente, podemos até interditar os abrigos", afirmou Krahenbuhl, que deve receber os relatórios do Contru hoje pela manhã.
Contêineres
Dezenove contêineres, que servirão de novo abrigo para as famílias vítimas do incêndio, haviam sido instalados no alojamento até as 19h de ontem, mas ainda não haviam sido ocupados. Os desabrigados aguardavam cadastramento.
A previsão era de que 30 contêineres cedidos pela Secretaria Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano fossem deslocados ontem para o alojamento da prefeitura.
"No alojamento corremos o risco de morrer queimados, nesses contêineres, de morrer assados", afirmou a sobrevivente do incêndio Maria Regina Alves das Virgens, 24, referindo-se ao material dos contêineres: alumínio.

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