São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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'Dream Chess' é a esperança para 1997

BENTO FERRAZ
DA REDAÇÃO

A Hungria de 54 disputa a Copa do Mundo de futebol com o Brasil de 70. Ou o Brasil de 58 luta na final da Copa com a Holanda de 74.
Os norte-americanos Jesse Owens e Carl Lewis duelam por recordes mundiais e pelo ouro olímpico nos 100 e 200 m rasos e salto em distância -nas provas de revezamento, integram a mesma equipe.
A romena Nadia Comaneci faz um desafio de arte e destreza à bielo-russa Svetlana Boguinskaya na ginástica feminina. No tênis, a rede da quadra central de Wimbledon separa o australiano Rod Laver do americano John McEnroe no último embate do torneio.
Mike Tyson e Muhammad Ali têm encontro marcado, olhos nos olhos, dentro do Madison Square Garden, em Nova York -a capital do "império" do fim do milênio- para o tira-teima de força e argúcia entre os pesados do boxe.
Para os amantes do esporte, qualquer desses imaginários confrontos seria um "Dream Fight". Imperdível, irretocável na emoção prometida, no inesperado do desfecho, no êxtase elevado a catarse global pela mídia. Não mais uma previsível -e espetacular- exibição de um adversário só dentro da arena, como num jogo do 'Dream Team' norte-americano de basquete.
Um esporte, porém, pode tornar realidade um confronto final entre dois de seus maiores em toda a história.
No milenar xadrez, o mundo tem hoje dois campeões. Anatoli Karpov, 45, manteve o título mundial da Federação Internacional (Fide) após vitória clássica (6 vitórias, 3 derrotas, 9 empates) no "match" contra o desafiante Gata Kamsky, norte-americano de origem siberiana de 22 anos.
Navegando em mar próprio, Garry Kasparov, 33, ostenta o título da Associação dos Enxadristas Profissionais (PCA), que ele mesmo criou após romper com a Fide nos arranjos para o "match" contra o britânico Nigel Short, em 93 (massacrado por seis vitórias a uma).
No ano passado, em outra impressionante demonstração de superioridade, liquidou a esperança hindu Viswanathan Anand por 4 a 1.
No início deste ano, apesar de perder um jogo, manteve a hegemonia humana sobre o computador, derrotando a supermáquina enxadrista da IBM, "Deep Blue", por 3 a 1.
Desde 1984, esses gênios russos duelam pela hegemonia mundial. O primeiro encontro foi anulado pela Fide (sob protestos de Kasparov, que perdia por 5 a 3, mas encurtava furiosamente a distância, após amargar um 5 a 0).
Nos outros quatro "matches" (85, em que Karpov foi destronado após dez anos, 86, 87 e 90), registraram-se três vitórias de Kasparov e um empate (respectivamente, 5 a 3, 5 a 4, 4 a 4 e 4 a 3).
O impressionante equilíbrio de forças se espelha no placar geral destas lutas pelo título: 21 vitórias de Kasparov, 19 de Karpov e 104 empates (50,69% para Kasparov, 49,31% para Karpov).
O ímpeto e a coragem de Kasparov chocam-se com a frieza e maestria de Karpov. Inimigos mortais, a reunificação do título está sendo negociada. Se o duelo das vaidades -e dos dólares em prêmios- for superado, os dois Ks poderão dar ao mundo, em 97, talvez o último "dream match".

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