São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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CIÊNCIA E ÉTICA

Ética, ciência e sociedade. Este é um trinômio extremamente complexo. A ausência de um código de ética mais apropriado aos até antes jamais vistos avanços científicos e o agravamento dos problemas sociais mesmo no Primeiro Mundo levam a certas situações de fato chocantes.
É bem este o caso da mulher britânica grávida de gêmeos que abortou apenas um dos fetos, alegando não ter condições de criar os dois filhos. No Reino Unido, o aborto é legal até a 24ª semana de gestação. Ela fez a cirurgia antes desse prazo. Não houve portanto óbices legais. Os dois fetos eram perfeitos.
Surgem algumas dúvidas. Qual embrião deve ser abortado? O da esquerda? O da direita? No caso de serem de sexos diferentes -essa informação não foi divulgada-, opta-se pelo masculino ou feminino?
Por que não levar a gravidez a cabo e entregar um dos bebês à guarda do Estado ou à adoção? Talvez fosse psicologicamente mais difícil fazer a opção depois do parto.
O fato é que os modernos diagnósticos pré-natais, as novas tecnologias de engenharia genética e técnicas de fertilização suscitam muitas questões éticas para as quais a humanidade ainda não encontrou respostas.
Existem desde posições bastante conservadoras, como a da Igreja Católica, que não aceita nem mesmo o uso da camisinha, conhecida em versões rudimentares desde a Antiguidade, até aqueles que acreditam que não deve haver nenhum obstáculo ético ao progresso da ciência.
O que importa é que essas novas técnicas podem vir a mexer com o próprio patrimônio genético da humanidade. Ademais, a vida em sociedade exige que se saibam quais são os limites. Até onde se pode ou não ir. Seria lícito, por exemplo, "fabricar" apenas bebês de olhos azuis?
Infelizmente, a ciência parece andar muito mais rapidamente do que a necessária reflexão ética exigida por qualquer sociedade enquanto tal.

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