São Paulo, sexta-feira, 9 de agosto de 1996
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MAQUIAGEM APENAS

O encaminhamento dado pelo governo à crise dos bancos, desde o ano passado, já suscitou inúmeros problemas de ordem técnica e política.
Ainda são pouco transparentes os custos do Proer. A opinião pública ainda não se convenceu da justeza ou mesmo exatidão do Banco Central na delimitação dos riscos (para os depositantes, para os acionistas ou para o sistema bancário como um todo). Os problemas de legitimidade são igualmente evidentes.
Os mesmos desconfortos, técnicos e políticos, resultam do anúncio de um novo instrumento de saneamento financeiro, agora voltado aos bancos estaduais. Sobretudo ao Banespa, cujo rombo já ultrapassa os R$ 18 bilhões depois de um longo período em que as autoridades apenas discutiam o problema.
É fato que o governo acena com a possibilidade de privatizações. Mas a decisão de ficar ou não com os bancos é dos governos estaduais. Outras possibilidades são a transformação em instituições de fomento ou a fusão com outras instituições (em São Paulo, há quem aposte no financiamento federal à fusão entre Banespa e Caixa Econômica Estadual).
Em suma, como já se viu em casos como o do Banco do Brasil, as autoridades estão mais preocupadas em atuar sobre a contabilidade, mudando as rubricas nas quais se encontram monumentais passivos incobráveis e inúmeras irregularidades, do que em atuar firmemente para mudar a face do sistema financeiro.
Note-se, aliás, que a mesma filosofia permeia a ação do BC com relação aos bancos privados em dificuldades. A prioridade é financiar fusões e evitar que os problemas se disseminem pelo sistema. Mas pouco ou nada se sabe de medidas ou mudanças na organização da autoridade monetária para que a supervisão e a fiscalização do sistema financeiro ganhem em qualidade e sejam de fato ágeis.
O governo se ocupa dos "esqueletos", daquilo que já apodreceu. Cuida do emergencial ao transferir para a esfera federal os custos da crise.
É a conhecida socialização dos prejuízos a que se acostumaram as elites brasileiras. Custou muito no passado e está custando muito agora.

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