São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
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Irritado, Malan nega mudança cambial

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

Em palestra para exportadores reunidos na sede da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), o ministro da Fazenda, Pedro Malan, reiterou ontem que a taxa de câmbio não mudará.
Segundo o ministro, a indexação do dólar a uma taxa de variação de preços diária traria, inevitavelmente, de volta a inflação.
Malan chegou a se irritar com um repórter que lhe perguntou sobre a possibilidade de mudança. "Isso é uma bobagem , rapaz, não sei por que continuam a perguntar isso. A política brasileira de câmbio está definida e é conhecida de todos."
Segundo o ministro, o presidente da AEB, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, e outros representantes da entidade não pediram mudanças no câmbio, mas levantaram questões importantes para o setor de exportação, como redução de custos, impostos e taxas.
"Infelizmente, no passado o Brasil usava a taxa de câmbio indexada numa base diária como forma de tratar essas questões básicas", afirmou.
Em sua exposição aos cerca de 200 empresários do setor de exportação, Malan afirmou que "não tem sentido a nostalgia de um passado em que se geravam mega-superávits na balança comercial (exportações menos importações)".
Durante 11 anos, afirmou, o Brasil gerou superávits anuais médios de US$ 13 bilhões.
"Isso acontecia porque o Brasil na época, era um país exportador de capitais, devido aos problemas com a dívida externa na época. Agora o Brasil importa capitais. No primeiro semestre, entraram no país US$ 4,5 bilhões em investimentos diretos."
Antes da palestra do ministro, Pratini de Moraes disse a Malan que o setor convive "com sobrevalorização cambial e juro alto".
"O déficit na balança comercial, no primeiro semestre foi diminuído à custa da redução de importações", afirmou Pratini. "As exportações cresceram apenas 6,8%, e as importações caíram 9,7%."
Pratini de Moraes disse que os setores que aumentaram suas exportações no período foram fumo, soja e derivados, suco de laranja, carne e produtos siderúrgicos. Em queda estiveram as exportações de café, açúcar e papel e celulose.
Ele também reclamou das dificuldades de financiamento para as exportações. "Não posso dar um prédio para garantir exportações de 180 dias para a Argentina. Só no Brasil se pede o aval da sogra para exportar", afirmou.

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