São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
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Mais informação, por favor

RODOLFO LUCENA

EDITOR DE INFORMÁTICA

Os Jogos Olímpicos de Atlanta foram um prato cheio para a televisão. Um festival de imagens belíssimas, emoções fortes, cenas às vezes engraçadas, fatos dramáticos.
A parafernália tecnológica permitiu uma cobertura televisiva diferenciada, com closes, tomadas inovadoras, panorâmicas -o espectador tinha o detalhe e o todo.
Um destaque foram as transmissões dos jogos de futebol, mostrando os lances por vários ângulos. O vôlei também recebeu atenção especial, que privilegiou a platéia televisiva.
Mas, se as imagens foram belas, às vezes deliciosas, informativas, o mesmo não se pode dizer das narrações.
O que as TVs revelaram, em muitas transmissões, foi a falta de preparo de narradores e comentaristas para acompanhar os diferentes esportes.
Ficou claro para quem assistiu que narradores e comentaristas não tinham feito seu dever de casa, tão pequeno era o número de informações que transmitiam sobre o esporte ou os competidores.
Narradores tarimbados ficavam enchendo linguiça, repetindo frases feitas, confiando na própria experiência para encher o tempo tendo poucas informações, pontificando sem ter muitos conhecimentos.
Está certo, pode-se dar um desconto para alguns casos: as emissoras passavam horas a fio transmitindo ao vivo, e narradores e comentaristas tiveram que se desdobrar em uma cobertura que às vezes acontecia aos soluços, com interrupções, pausas e então, em poucos segundos, o drama e o desenlace -caso, por exemplo, do salto em altura.
Mas isso não justifica a falta de informação, ainda mais porque os organizadores da Olimpíada distribuíram quilos e quilos de material sobre os atletas e as diversas modalidades esportivas.
Seria material mais do que suficiente para encher o tempo: informar idade, altura, peso, títulos anteriores das pequenas ginastas, por exemplo, em vez de apenas nome e país.
Faltou também mais atenção com o esporte transmitido, ocasionando erros ridículos -como repetir por duas vezes que o vencedor da marcha dos 20 mil metros tinha completado a prova em "um minuto, vinte segundos...".
Seria bom, e nós, o público, aplaudiríamos, se as televisões revissem suas coberturas dos Jogos, anotando os erros, usando as falhas para preparar melhor suas transmissões.
O Campeonato Brasileiro está começando. É o início de uma nova maratona de transmissões esportivas, agora em um terreno em que narradores, comentaristas e repórteres já são escolados.
Seria bom que transformassem as transmissões em espetáculos de imagens, sim, mas também em informação sólida. Que a câmera acompanhe o lance de arte, que faça o replay em slow motion, mas que também não fuja da notícia, esteja ela no campo ou na arquibancada. Que os locutores e comentaristas procurem se preocupar mais com os fatos do que com suas opiniões. Que os repórteres consigam trabalhar, informando o que acontece e não o que alguém da equipe imagina que esteja transcorrendo.
Em suma, que nos tragam mais informação, por favor.

Hoje, excepcionalmente, não publicamos a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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