São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
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Falta luz

JUCA KFOURI

O Campeonato Brasileiro começou anteontem, dia 14 de agosto. Pelo menos é o que diz a tabela da competição, distribuída pela CBF.
Como o calendário mostra que a última quinta-feira caiu num dia 8 de agosto, o torcedor brasileiro fica sabendo que o maior importante torneio do futebol quatro vezes campeão mundial começou pela segunda rodada, coisa que um italiano jamais entenderá, muito menos um espanhol. E os brasileiros gostam de fazer piadas com os portugueses...
O campeonato começou de maneira tão clandestina que apenas pouco mais de 7.000 torcedores foram ao Morumbi para ver a boa atuação tricolor na vitória diante da Portuguesa, quando Muller mostrou que pode ter a mesma utilidade que teve no Palmeiras, resolvendo quase tudo em apenas dois toques.
E apenas pouco menos de dez mil rubro-negros foram ao Maracanã para prestigiar a estréia do clube mais popular do mundo contra o Atlético-MG, noutro bom jogo.
Convenhamos que não é preciso nenhum simpósio, como o que a CBF organizará nos próximos dias, para constatar o tamanho da indigência geral de nossa cartolagem, incapaz até de dar alguma solenidade ao começo do Campeonato Brasileiro. A escuridão é total.
O pior é que tudo continuará na mesma. Clássicos serão disputados fora de suas sedes naturais, prática que castiga e desacostuma o torcedor local, além de tirar o aspecto competitivo dessas partidas, que adquirem ares de simples jogos amistosos, embora não o sejam. Tudo justificado como necessidade de faturamento dos clubes quando, na verdade, quem lucra com tais promoções são os cartolas, atrás do que lhes rendem as placas de publicidade em estádios ainda não explorados. É isso que o torcedor precisa saber: os clubes estão cada vez mais pobres porque alguns cartolas estão cada vez mais ricos.
E por aí vai. Por migalhas da TV, voltaremos a ter futebol às sete da noite nos domingos, outro crime contra o torcedor, outro motivo para vermos estádios às moscas, esfriando até o espetáculo televisivo.
Convenhamos que não é preciso simpósio algum mas, sim, um bom processo de desratização. Aí, a luz se fará.
*
Para não perder Sávio para a Espanha, o Flamengo se apressa em renovar o contrato por dois anos, pagando R$ 50 mil mensais. Assim, ele fica.

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