São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
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O CUSTO DA ESTABILIZAÇÃO

A alta dos preços ao consumidor entre agosto de 95 e julho último, segundo a Fipe, foi de 15,1%, a menor em 12 meses desde 1974. Esse inegável sucesso na contenção dos preços trouxe enorme benefício ao país e especialmente às camadas de baixa renda, mais duramente atingidas quando os índices de preços variavam, ao mês, 30%, 40% ou 50%.
Entre os custos sociais do Plano Real, porém, o desemprego mostra-se cada vez mais agudo. A Pesquisa de Emprego e Desemprego que o Dieese realiza com outras instituições constatou que em junho havia 2,1 milhões de pessoas desempregadas apenas nas regiões metropolitanas de Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo. São 438 mil desempregados a mais que em dezembro último.
Em muitos países mais avançados, a escassez de vagas de trabalho decorre em parte das rápidas mudanças tecnológicas. A produção mostra-se mais dependente de bens de capital e menos de mão-de-obra. A esse desafio somam-se distintos obstáculos ao crescimento econômico.
No caso dos países que estabilizaram suas moedas utilizando a valorização cambial (como o Brasil, a Argentina e, antes da crise, o México) o saldo da balança comercial é o constrangimento mais imediato. Mesmo nações sem essa peculiaridade, entretanto, estão sujeitas à pressão do movimento de capitais, que limita a eventual redução das taxas de juros.
No caso do Brasil, as condições específicas de crédito, juros e câmbio mostram-se ainda como as principais razões do desemprego. O governo federal tem declarado que espera para breve uma recuperação no ritmo de atividade. Mas os dados disponíveis até o momento não são muito animadores. Uma eventual aceleração do crescimento pode conter a tendência de desemprego, mas a ilusão de uma estabilização indolor já caiu por terra. Os benefícios são enormes, mas há custos. E elevados.

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