São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
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SOCIAL NA PROPAGANDA

É grave o fato de a prefeitura ter ignorado relatório sobre o alojamento incendiado na última terça-feira, entregue em junho pelo Núcleo de Epidemiologia, Pesquisa e Informações, e que já alertava que "a instalação elétrica deficiente, com improvisações, coloca em risco de incêndio os moradores e particularmente as crianças, devido a fios expostos e caixa de força sem grade de proteção".
O descaso com que foram tratados os desabrigados de áreas de risco, mesmo depois do incêndio que matou dez pessoas no abrigo municipal, apenas reforça a impressão de que a preocupação social da atual gestão tem muito de propagandística.
Apesar das ostensivas declarações do prefeito Paulo Maluf de que as vítimas receberiam todo o apoio, a ação do poder municipal limitou-se, por três dias, a enviar alguns contêineres onde alojar sobreviventes do galpão incendiado.
Sem assistência, 20 famílias decidiram sair do alojamento e dormiram ao relento. Nesta quinta-feira, moradores declaravam à Folha que "ninguém dorme mais de três horas por noite... a gente acaba acordando com medo de novos focos de incêndio".
Somente ontem à noite, depois do início de curto-circuito em outro galpão, a prefeitura decidiu desalojar os moradores e pô-los provisoriamente em outros locais, prometendo fazer uma revisão das ligações elétricas.
É preciso reconhecer que o projeto Cingapura tem o grande mérito de construir habitações populares no mesmo local onde hoje estão as favelas, evitando assim a resistência dos favelados a mudar-se para regiões distantes. Mas a propaganda da prefeitura na área de habitação mostra-se desproporcional.
Afinal, em três anos e meio de gestão, a Secretaria de Habitação do Município de São Paulo declara que foram inauguradas 3,5 mil habitações nos edifícios do Cingapura. No total, a Secretaria afirma que foram entregues 10.026 habitações até junho último, contra 28.464 construídas na gestão passada, sem tanto alarde.

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