São Paulo, sábado, 10 de agosto de 1996
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O grito dos excluídos

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Na madrugada de 6 de agosto ergueu-se o grito de dor dos que foram surpreendidos pelo incêndio no conjunto José Bonifácio, na zona leste da capital paulista. A tristeza invadiu nosso coração diante desse acidente que causou a morte de dez pessoas e que poderia ter sido evitado.
É preciso que o grito dos excluídos repercuta em todos nós. Sejamos sensíveis à voz de milhões de irmãos que aguardam nossa cooperação e as decisões políticas adequadas em nosso país.
No dia 7 de setembro, a cada ano, vem se realizando a "Romaria dos Trabalhadores" ao santuário de Nossa Senhora Aparecida. Em 1995, nessa mesma data, fez-se ouvir o "grito dos excluídos", clamor de alerta em favor da justiça e paz e contra a exclusão social.
Neste ano, pela segunda vez, vai ecoar pelo Brasil o mesmo grito, num anseio de que seja mais acolhido. A ligação com a "Romaria dos Trabalhadores" nasce da convicção de que o trabalho é o melhor caminho para superar as formas de exclusão.
O grito "Trabalho e terra para o povo viver" denuncia o sofrimento de 10 milhões de desempregados e expressa a esperança de que se abram novas possibilidades de trabalho. Infelizmente, o desemprego é estrutural, decorre da globalização da economia e requer grandes esforços para ser superado.
A situação é conhecida. Continua havendo redução de postos de trabalho. Cresce nas fábricas e empresas o temor diante da ameaça de desemprego. O abatimento penetra no próprio lar, gerando um clima de ansiedade e insegurança. Uma das consequências mais penosas é o aumento do fluxo migratório que tem forçado centenas de milhares de jovens a deixar suas famílias e procurar emprego fora do país.
Unamo-nos aos romeiros que no dia 7 de setembro irão ao santuário da padroeira do Brasil. Queremos expressar a fé no Deus da vida, colocando nele, em primeiro lugar, a esperança de que possamos construir uma sociedade justa e solidária.
Diante das causas que geram a exclusão, é preciso erguer o grito profético pela justiça e paz, que garanta a cidadania plena para todos. O mais importante está na atitude da conversão individual e social que respeite e promova a dignidade da pessoa e crie laços de verdadeira solidariedade fraterna.
Há propostas concretas que devem ser valorizadas. Na linha governamental, além das tão esperadas reforma agrária e política agrícola com apoio ao pequeno e médio produtor, será necessário dar prioridade aos investimentos sociais e, em especial, à saúde, educação e à geração de empregos.
Neste tempo de eleições, temos que exercitar o discernimento para escolher candidatos comprometidos com a causa dos excluídos e a promoção do bem comum.
Aproxima-se o "Jubileu do ano 2000", que celebra o nascimento de Cristo. Já é tempo de colocarmos em prática o preceito do amor fraterno que, dinamizando a solidariedade e eliminando a exclusão social, proclama o advento do reino de Deus entre nós.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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