São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
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O MST e a educação

ATTICO CHASSOT

Leio a TFP, destilando ódio e incitando violência contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. Lembro minhas mais ricas atividades como educador: trabalhar na formação de educadores para os acampamentos e assentamentos.
Escrevi que estar na escola Uma Terra de Educar é um (re)aprender a ser professor. Experiências iguais vivo, no Instituto da Terra, onde o MST educa técnicos em cooperativismo, em atividade onde a teoria alimenta/é alimentada pela prática.
Há uma heróica história na sangrenta luta pela terra que é desconhecida. Ao se discutir a reforma agrária, as questões mais gerais ofuscam uma das lutas maiores do MST: a educação.
Nos acampamentos -tempo fértil de preparação para os assentamentos- ao lado das questões relativas à forma de produzir, de comercializar, de organizar a própria vida, se reflete sobre a educação, e isso inclui como tornar as mulheres e os homens mais críticos.
Hoje, há cerca de 1.500 educadores em acampamentos e assentamentos; são cerca de 38 mil crianças frequentando 800 escolas ligadas ao MST. Há mais de 200 monitores ensinando a ler, escrever e fazer as contas a mais de 2.500 pessoas. É fácil imaginar a precariedade dessas escolas de acampamentos, nessas cidades de lona preta. Muitas têm uma só peça, onde as crianças das quatro primeiras séries estudam com uma professora.
Há outras situações, em assentamentos que já têm uma vida consolidada, nas quais a escola é a principal construção da vila, e as crianças têm sua escolarização acompanhada por professores que não só receberam uma formação especializada, mas são continuamente assistidos no seu fazer pedagógico pelo setor de educação do MST, que por exemplo, edita publicações que levam a cada acampamento e a cada assentamento subsídios para tornar melhor a prática pedagógica.
À noite, a escola é frequentada por jovens e adultos que não apenas buscam uma educação formal, mas procuram se tornar mais capazes naquilo que é específico para as suas lides, e isso inclui uma sólida formação política.
É importante destacar que, mesmo que o MST não defenda uma educação guetizada, está muito preocupado com uma escola que responda àquelas que são exigências mais próximas dos sujeitos que recebem as ações da mesma.
Sabemos quanto as escolas, usualmente, não respondem às necessidades daqueles que as frequentam. Acredito na simplicidade de uma frase que vi em um cartaz, em uma escola: "Se a educação que os ricos inventaram ajudasse o povo de verdade, os ricos não davam dessa educação pra gente". A educação que o MST oferece contribui para que mulheres e homens sejam mais capazes de interferir na sociedade em que estão inseridos e modificá-la para melhor.

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