São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
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Brasil vende menos pisos e azulejos

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil está deixando de vender revestimentos cerâmicos no mercado mundial.
Apesar de ser o terceiro maior exportador, corre o risco de perder essa posição por causa da entrada da China no mercado.
Itália e Espanha detêm, respectivamente, 52% e 26% do comércio internacional de pisos e azulejos (614 milhões de m² em 1995). O Brasil vem em seguida, com 4,8%.
Não está fácil manter essa colocação, diz Ademir Lemos, presidente da Anfacer, associação do setor, que reúne 53 fabricantes.
Há três anos, as exportações brasileiras estão estabilizadas entre cerca de US$ 140 milhões e US$ 150 milhões anuais.
Neste ano, também não começaram bem. As indústrias embarcaram US$ 66,8 milhões no primeiro semestre -15% menos do que em igual período do ano passado (US$ 78,6 milhões), informa a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo.
Real valorizado
Os fabricantes dizem que perderam competitividade por causa da valorização do real sobre o dólar. Na análise deles, a defasagem cambial para exportação de revestimentos cerâmicos é de 23%.
Destacam também a elevada carga tributária, a falta de estrutura de transportes e a burocracia alfandegária para viabilizar os embarques.
A catarinense Eliane, uma das maiores fabricantes de pisos e azulejos do país, prevê para este ano exportar o mesmo valor do ano passado (US$ 33 milhões).
"É difícil concorrer com Itália e Espanha. E a China já começa a preocupar", diz Adriano Lima, diretor-presidente.
É que a China apareceu como grande fabricante de revestimentos cerâmicos no ano passado, ao anunciar produção de 500 milhões de m² em 1995 e de 900 milhões de m² para este ano.
Até o final da década, a expectativa dos chineses é aumentar, no mínimo, 12% ao ano a produção de revestimentos cerâmicos. Por enquanto, quase toda a produção fica no mercado chinês.
A Itália e a Espanha, que destinam dois terços do que fabricam ao mercado internacional, também devem aumentar no mínimo 5% ao ano o volume fabricado.
A Itália deve fechar 1996 com produção de 600 milhões de m² e a Espanha, com 420 milhões de m².
Para Francisco Arruda, diretor da Santana, fabricante paulista de pisos e azulejos que exporta 20% da produção ou 50 mil m² por mês, o que emperra a exportação é o receio dos bancos em financiar as vendas para o exterior.
"Eles evitam financiar as exportações por causa do risco do crédito. Só os grandes grupos têm acesso ao dinheiro."
A nova linha de crédito de R$ 1 bilhão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar as exportações de vários setores -incluindo revestimentos cerâmicos- não anima os fabricantes.
"O dinheiro será liberado para a rede bancária, que vai aprovar ou não o repasse para as empresas", diz Arruda.
Para Lemos, no entanto, a linha de crédito do BNDES pode propiciar melhores resultados nas exportações.
Na análise de Arruda, a China ainda não ameaça porque não produz com a mesma qualidade do Brasil. "É por isso que o preço deles é um quarto do nosso."

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