São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
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BC muda regras e faz dívida cair R$ 14 bi

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A dívida interna do governo federal vai ser reduzida, de forma paulatina, em aproximadamente R$ 14 bilhões. O "passe de mágica" foi a recente mudança das regras do compulsório, determinada pelo Banco Central.
O depósito compulsório é uma forma tradicional de os bancos centrais controlarem a capacidade dos bancos de emprestar ao setor privado e, portanto, de gerar atividade na economia.
Graças a ele, os bancos são obrigados a depositar no BC (o que equivale a não poder emprestar ao setor privado) uma parcela do que receberam em depósitos.
Na regra antiga, os bancos podiam depositar seu compulsório em dinheiro ou em títulos públicos. Na prática, portanto, os bancos compravam parte dos títulos emitidos pelo governo para depositar no próprio BC.
Agora, e com o maior impacto acontecendo só em 97, o grosso do compulsório será depositado em dinheiro. Assim, estimam os analistas, o governo ficará dispensado de vender aproximadamente R$ 14 bilhões em títulos.
A nova regra, diz Cássio Casseb Lima, vice-presidente do Citibank, é mais restritiva. Mas, para ele, era natural que o BC desejasse dosar melhor a expansão do crédito.
Mecanismos
A mudança nas regras do compulsório faz parte de uma série de medidas que o BC está adotando. A idéia é criar mecanismos que melhorem a gestão da política monetária (controle da quantidade de dinheiro em circulação).
Até agora, o BC só dispunha de um instrumento efetivo: o juro.
Com o novo compulsório, a TBC (Taxa do Banco Central) e as novas regras de acesso ao redesconto (uma linha do Banco Central para emprestar recursos a bancos), começam a ser criadas as condições para o fim da chamada "zeragem automática".
Na "zeragem", o BC troca diariamente títulos e dinheiro com os bancos para fechar o caixa do dia.
No novo esquema, caberá cada vez mais ao próprio mercado "casar" títulos e dinheiro, desobrigando o BC de atuar no over. O presidente do BC, Gustavo Loyola, comemora: "Estamos mais livres no dia-a-dia".
Mas não totalmente. Pegar dinheiro no redesconto é, ainda, estigmatizado -quem precisa é porque está com o pé na cova.
Segundo Celso Scaramuzza, diretor do Unibanco, a linha de redesconto está sendo pouco usada porque não existe um diferencial de juros. Além disso, lembra, somente agora o BC ampliou o acesso a essa linha -antes, o acesso era exclusivo para os bancos que tinham contas correntes.
"Estamos vivendo um momento de aprendizado", diz José Baia Sobrinho, presidente do Banco Pontual. "O mercado continua ouriçado com o problema cambial. Ao menos momentaneamente, o juro deve se fortalecer, já que o câmbio não pode ser mexido."

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