São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
Próximo Texto | Índice

Bienal de livros consagra o escritor brasileiro

MARCELO REZENDE
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase em completo silêncio, sem ruídos ou alardes, o escritor brasileiro está de volta.
A 14ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, que se inicia amanhã para os profissionais do setor editorial -e estará aberta ao público no próximo dia 16-, muda o tom de um surrado clichê do mercado editorial.
No lugar das grandes estrelas, e best sellers, da literatura mundial, a feira que se realiza este ano parece estar voltada para a prosa, a história e "o tema brasileiro".
Para um leitor saudoso da literatura nacional haverá Carlos Heitor Cony, Rodrigo Lacerda, Ferreira Gullar, João Antônio, Josué Montello, Fernando Sabino, Manoel de Barros e José Paulo Paes, entre os reconhecidos autores brasileiros que terão obras lançadas na Bienal.
Além de novidades, a feira oferecerá também uma série de reedições, além de alguns achados.
A grande surpresa é a edição de 62 poemas inéditos do poeta simbolista Cruz e Sousa (1861-1898). Manuscritos que passaram décadas guardados em uma frágil caixa de papelão.
"Acredito que há um empenho do editor brasileiro em relação ao autor nacional", diz o escritor João Antônio, que prepara o lançamento de "A Dama do Encantado" (editora Nova Alexandria).
João Antônio acredita que há vários signos do retorno do interesse pela escrita e pelo tema brasileiro.
Além das listas dos mais vendidos (na pesquisa realizada pelo Datafolha nos dias 13, 16 e 18 de julho constavam quatro obras nacionais), agora "há mais espaço na mídia para os brasileiros".
Para ele a situação é motivada pela saturação da literatura estrangeira no país, sempre regulada mais pela quantidade do que pela qualidade.
Minisséries
O poeta Ferreira Gullar ("Gamação", editora Global) se alinha ao lado de João Antônio na crença de que há um desejo pelo Brasil.
Segundo ele, parte desse "redescobrimento" passa necessariamente pela televisão: "As minisséries brasileiras despertam o espectador para os assuntos brasileiros. É claro que esse interesse se deslocaria também para a literatura".
Gullar acrescenta ainda que agora "as pessoas estão aprendendo a fazer uma distinção entre a arte e o entretenimento".
O poeta José Paulo Paes, que lança cinco trabalhos (incluindo suas traduções), se mostra mais cético: "Não sei se é verdade esse novo interesse pelo autor brasileiro. A verdade é que as editoras sempre preferiram investir em traduções".
José Paulo acrescenta que existe na imprensa brasileira uma certa resistência aos assuntos do país: "As discussões são ainda mais voltadas ao pensamento estrangeiro, não existindo muito espaço para os temas nacionais".
Mas, se existe no momento uma dupla leitura sobre a situação do escritor brasileiro frente ao seu concorrente internacional, o mineiro Fernando Sabino ("De Cabeça para Baixo", editora Record) oferece uma resposta involuntariamente irônica.
"Eu não sei dizer se esse interesse é verdade. É que eu estive fora, viajando". Seu novo livro é uma coletânea de textos sobre suas viagens pelo mundo.

Próximo Texto: Cruz e Sousa retorna com inéditos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.