São Paulo, segunda-feira, 12 de agosto de 1996
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Clint ataca aparências

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Num dia de poucos programas, "Um Mundo Perfeito" tem no mínimo três vantagens incontestáveis: 1) passa na Warner, canal comum aos dois grandes sistemas de TV por assinatura; 2) entra às 22h, horário razoabilíssimo; 3) é um filme de alto nível.
Daqui por diante, a única característica que importa é a última, nessa história de um foragido (Kevin Costner) que sequestra um garoto de 7 anos. Daí por diante teremos algo tradicional no cinema americano (a perseguição policial), algo bastante atual (a função paterna sendo exercida por outro homem que não o pai) e um aspecto muito pessoal.
Este último ilustra o trabalho de Clint Eastwood, diretor e ator coadjuvante do filme. Tomemos uma cena, isoladamente: numa cidade quase fantasma, as balconistas usam de gentileza comercial para atender seu cliente (Costner).
Ao constatarem que ele é o sequestrador, sua atitude muda inteiramente. Seria compreensível. Mas as moças não são movidas pela oposição entre lei e crime, e sim por outra: vender ou não vender.
Essa cena dá o tom do filme. Ao mesmo tempo em que arrebenta os gêneros, misturando perseguição e intimismo, Clint atacará um mundo cuja perfeição apóia-se exclusivamente nas aparências.
Daí o título irônico. Não há harmonia nos destinos, não há perspectiva de justiça, não há verdade. Só contam as aparências. A elas cabe aos políticos, policiais ou vendedores administrar.
Ou também aos cineastas, como se vê em 90% dos filmes de sucesso. Clint vai contra a corrente para mostrar que o cinema ainda tem uma chance de dignidade no mundo.
(IA)

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