São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 1996
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Sem-terra "ocupam" DF para agilizar assentamento

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) decidiu "ocupar" com suas barracas a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para pressionar pela reforma agrária.
Desde ontem, cerca de 350 sem-terra vindos de 157 acampamentos coordenados pelo MST em todo o país estão instalados no gramado do Gran Circular -área da Esplanada dos Ministérios.
Segundo a entidade, os manifestantes ficarão acampados até que todas as 44 mil famílias que estão em propriedades invadidas pelo país sejam assentadas.
Cada acampamento enviou dois ou três representantes. Foram montadas barracas de lona que servirão de dormitório, reproduzindo a estrutura dos acampamentos em terras invadidas.
Os alimentos foram enviados pelos acampados no país. Uma cozinha coletiva foi montada no local.
Segundo Valmir de Oliveira, do MST, o governo do Distrito Federal autorizou a instalação dos sem-terra na Esplanada dos Ministérios. Também permitiu a utilização de banheiros de área do governo vizinha ao acampamento.
Violência no campo
Ontem, 200 mulheres sem-terra participaram em Brasília de manifestação pelo Dia Nacional de Luta Contra a Violência no Campo.
Pela manhã, elas entregaram manifesto reivindicando a punição dos responsáveis pelos massacres de Eldorado do Carajás (PA) e Corumbiara (RO) ao secretário-executivo do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Humberto Spínola.
Spínola representou o ministro Nelson Jobim (Justiça), que estava em Belo Horizonte (MG).
O manifesto também exige o assentamento "urgente" de 44 mil famílias acampadas e a aprovação pelo Congresso dos projetos ligados à reforma agrária.
Documento semelhante foi entregue à representação da ONU (Organização das Nações Unidas) no Brasil e ao ministro interino de Política Fundiária, Marcos Lins.
Ele disse concordar com o argumento das sem-terra de que a violência no campo só diminuirá com a aceleração da reforma agrária.
À tarde, as trabalhadoras rurais se encontraram com o presidente do STJ (Supremo Tribunal de Justiça), Romildo Bueno de Souza.
Segundo ele, ainda faltam provas para indiciar os responsáveis pela morte dos 30 sem-terra em Eldorado do Carajás e Corumbiara.
Em seguida, elas foram recebidas por Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), presidente da Câmara. O pefelista prometeu abrir as galerias da Casa para que as sem-terra acompanhem a votação do projeto do rito sumário de desapropriação de terras, marcada para hoje.
Mulheres mártires
Entre as manifestantes, estavam presentes as chamadas "mulheres mártires", como Hebe de Bonafini e Marta Badillo, principais líderes da Associação das Mães da Praça de Maio, da Argentina.
Outras mulheres que participaram dos protestos de ontem foram Olinda Tavares, 55, mãe do padre Josimo (assassinado há dez anos no Maranhão), Maria Gorete Abreu e Maria Elizabete Santos -sobreviventes do massacre de trabalhadores rurais em Eldorado do Carajás (PA).

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