São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 1996
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Para mim, medalha de bronze não foi surpresa

HENRIQUE GUIMARÃES
ESPECIAL PARA A FOLHA

No Brasil, apesar de o país ter bastante tradição no judô internacional, a modalidade merece pouco acompanhamento da imprensa esportiva. Somente às vésperas de competições importantes, como Olimpíadas ou Jogos Pan-Americanos, quando os judocas são cotados para voltar ao país com medalhas, é que chamamos alguma atenção. Coisa normal no paraíso do futebol.
Embarquei para Atlanta carregando na bagagem os títulos de vice-campeão mundial júnior de 92 e vice-campeão pan-americano de 94. Além disso, no Mundial de 95, obtive a sétima posição.
Minha atuação no exterior, apesar de meus 23 anos, foi suficiente para que a imprensa especializada internacional me colocasse entre aqueles que tinham chances de medalhas.
Por aqui, houve quem me considerasse surpresa. Até de azarão me chamaram.
Entretanto, eu estava preparado para essa reação. Da mesma forma como tinha certeza que voltaria da Olimpíada com uma medalha. Eu queria a de ouro. Ela não veio, mas com a mesma garra e espírito corri atrás da de bronze. Foi ótimo escalar o pódio em Atlanta e ver nossa bandeira ser hasteada. Mesmo que não tenha podido fazer tocar o Hino Nacional.
Mas oportunidades não faltarão. Vem aí o Mundial de 97 (França) e a Olimpíada-2000.
O fundamental na carreira de um esportista é saber aprender com os erros cometidos. Recebi lições importantes no Pan de Mar del Plata. Já no Mundial do ano passado conheci a importância de uma medalha de bronze, disputa que não me entusiasmou e me afastou dessa conquista.
Não acredito que alguém vá a uma Olimpíada se contentando em participar apenas. Não foi para isso que me dediquei tanto. Não foi por isso que me entreguei a tantos sacrifícios. Treinar dói. Treinar muito dói muito. Treinar para uma Olimpíada arrasa com o corpo e a mente. Só mesmo um objetivo almejado com determinação é que consegue manter um atleta em pé e em condições de vencer. Subir ao pódio é uma grande vitória.
Sempre procurei me espelhar na carreira de judocas como Sérgio Pessoa, meu técnico, e Aurélio Miguel, o ídolo de todos nós. Ter estado ao lado deles, contando com a experiência que eles fazem questão de não guardar para si, foi um privilégio. E importante ingrediente para compor a química que resultou na minha vitória de bronze. E foi com eles também que aprendi que não tenho que me satisfazer com isso. Sei que para colocar uma medalha de ouro no peito tenho que persistir. Nesses momentos me recordo de quando pensei em deixar o judô e, por todos os meios, fui convencido a continuar por minha mãe. Que erro eu iria cometer.
A medalha olímpica de bronze, surpresa para aqueles que não seguem o judô, vai mudar minha vida. Aliás já mudou. Com essa guinada, cresceram também minhas responsabilidade. A consciência disso não me atemoriza. Pelo contrário, me enche ainda mais de tesão. Já estou de olho no Mundial de Paris. Depois no Pan de 99, mas já pensando em Sydney.

Henrique Serra Azul Guimarães, 23, é medalha de bronze na categoria meio-leve do torneio de judô da Olimpíada de Atlanta

Hoje, excepcionalmente, não publicamos a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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