São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996
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Mortes fazem jovens terem medo de sair de casa

BB
DA REPORTAGEM LOCAL

Jovens estudantes estão com medo de sair de casa após os episódios que resultaram nas mortes de dois universitários e um recém-formado no último fim-de-semana.
"Vou ficar sem sair um bom tempo, pelo menos até que passe o choque com o que aconteceu", disse a universitária Heloísa Aguiar, 22, colega de Adriana Ciola, 23, morta no bar Bodega.
A estudante T.J., 21, tem medo até de dizer o nome. "Não sei o que se passa na cabeça desses ladrões. Costumava frequentar o Bodega, mas agora estou com medo de sair."
Muitos já passaram por episódios de violência parecidos com os que mataram os estudantes.
Ana Cristina Ferreira, 23, é aluna do 4º ano do curso de odontologia da Universidade Paulista.
Ficou impressionada quando abriu os jornais ontem e leu sobre a morte de Rodrigo Iandoli, 21, em frente ao prédio da namorada.
"Passei pela mesma experiência, foi tudo igualzinho, só que ninguém morreu", conta.
Ana estava parada no carro com o namorado em frente a seu prédio, em Higienópolis (região central). "Tentaram nos assaltar, mas conseguimos sair com o carro."
Ana conta que agora prefere ficar em casa vendo vídeos no fim-de-semana, para evitar problemas como esse.
A estudante Débora Vieira, 21, diz que tem medo até de ir para a ginástica. "Saio muito cedo, a rua ainda está escura, fico neurótica."
O psiquiatra Mauro Madureira diz que esse tipo de reação é normal quando a pessoa passa por uma situação traumática ou apenas ouve falar.
"A situação fica central na vida da pessoa, mas, com o tempo, as idéias vão ficando mais claras e mais de acordo com a realidade."
O universitário Luciano Del Santo, 22, afirma que a violência já faz parte do cotidiano. "Todo mundo se tranca e fica receoso de sair. A gente se cerceia, mas, mesmo em casa, alguém pode te matar."
O estudante R.C., 23, diz que já há algum tempo deixou de sair à noite. "Tive dois amigos baleados durante assalto a carro, outro levou um tiro quando tentava fugir com a moto e uma amiga foi assaltada quando entrava na garagem. Prefiro ficar em casa."
A psicóloga Maria Helena Steiner diz que a população está amedrontada. "Episódios como esses traumatizam a pessoa. Estamos fazendo dessa nova geração um exército de acovardados."

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