São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996
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"Morte ao Vivo" é surpresa em Gramado

AMIR LABAKI
ENVIADO ESPECIAL A GRAMADO

O concorrente espanhol "Morte Ao Vivo" (Tesis) surge hoje como uma das raras surpresas da disputa latina deste 24º Festival de Gramado. Não se trata de um grande filme, redondo e acabado, mas revela inequívoco talento narrativo do estreante Alejandro Amenábar, 24, chileno radicado em Madri.
Exibido com sucesso na mostra paralela Panorama de Berlim-96, "Morte ao Vivo" trata do fascínio contemporâneo por imagens macabras. De "Kika", de Pedro Almodóvar, ao recente curta "Ao Vivo e a Cores", de Tadeu Knudsen, essa investigação tem se fixado na violência na TV. Amenábar muda o foco para os "snuff movies", produção clandestina de filmes com imagens reais de assassínios e outras crueldades.
Angela, uma recatada estudante de cinema, dedica sua tese à violência audiovisual. O professor que a orienta morre diante de um telão sob o impacto de um filme.
Amenábar presta reverência sobretudo a Hitchcock mas é principalmente ao hitchcockiano Brian De Palma que seu filme de estréia acumula maior dívida. A cuidadosa reconstituição do crime a partir do exame minucioso do filme por Chema remete ao Travolta sonoplasta-detetive de "Um Tiro na Noite" (Blow Out, 1984). A ciranda final das suspeitas é também marca dos policiais de De Palma.
À eficiente construção do suspense combina-se louvável sutileza. A agressividade das imagens é sugerida e não explorada. Amenábar dribla elegantamente o oportunismo e não dispersa o espectador com o impacto pelo impacto.
"Morte Ao Vivo", que terá distribuição comercial no Brasil pela Pandora Filmes, merece atenção ainda por resgatar para o cinema a atriz Ana Torrent.
Há 20 anos lançada como um dos casos exemplares de crianças-prodígio no cinema, Torrent tornou-se um rosto mítico como a menina de "Cria Cuervos" (1974), de Carlos Saura. A atriz retorna à cena internacional em um desempenho controlado. Só por isso Amenábar já mereceria nossa gratidão.
Corisco e Dadá
Encerra a noite o quarto longa da disputa nacional, "Corisco e Dadá", de Rosemberg Cariri. O filme nada acrescenta a um gênero marcado por clássicos como "O Cangaceiro".
Menos pretensamente glauberiano que o filme anterior de Cariry ("A Saga do Guerreiro Alumioso"), "Corisco e Dadá" tropeça na literatice da narração pontuada pela brava Regina Dourado, nas digressões do roteiro e na inconsistência da direção. Salva-se Chico Diaz no papel principal e destaca-se uma cena sobre a filmagem de Lampião. Não é muito.

O crítico Amir Labaki viaja a Gramado a convite da organização do festival.

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