São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996
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Atriz de "Cria Cuervos" retorna ao estrelato depois de 20 anos

JOSÉ GERALDO COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM GRAMADO

Ana Torrent -a menina-prodígio que estreou no cinema aos 6 anos e se tornou conhecida internacionalmente dois anos depois com o filme "Cria Cuervos", dirigido por Carlos Saura- virou mulher.
Aos 30 anos, mas mantendo o encanto de menina, ela está em Gramado para acompanhar a performance de "Morte ao Vivo", de Alejandro Almenábar, que será apresentado hoje.
O filme está em cartaz há quatro meses na Espanha, mas Ana Torrent não parece muito impressionada com a volta ao estrelato. Seu próximo trabalho será em uma montagem espanhola da peça "As Criadas", de Jean Genet.

Folha - Como você foi parar no cinema?
Ana Torrent - Victor Erice, quando formava o elenco de "O Espírito da Colméia", foi ao meu colégio e me escolheu. Acho que porque eu era introvertida e brincava separada das outras crianças.
Meus pais acharam a idéia divertida. Mas depois, quando o filme teve uma grande repercussão e fui convidada para fazer "Cria Cuervos", eles ficaram preocupados. Temiam que eu largasse os estudos, que a fama me virasse a cabeça.
Folha - E isso aconteceu?
Torrent - Não de uma forma direta. Nunca me aconteceu o que ocorre a tantos atores infantis, que acabam tendo problemas de alcoolismo ou dependência de drogas na adolescência.
Mas aos poucos me dei conta de que não tive uma infância comum. De repente, não sabia bem quem eu era, fora do cinema, e isso me deu muita insegurança.
Depois, revendo os filmes que fiz naquela época, que eram terríveis, percebi que aquilo tinha deixado muitas marcas na minha sensibilidade.
Folha - Você chegou a abandonar a profissão?
Torrent - Me afastei bastante durante uma época, para descobrir quem eu era. Entre os 15 e os 20 anos atuei muito pouco. Entrei na faculdade, tentei cursar história e geografia.
Mas acabei estudando arte dramática -na Espanha e em Nova York- e percebi que queria de fato ser atriz.
Folha - O fato de ter começado tão cedo, em filmes tão marcantes, ajudou ou atrapalhou?
Torrent - Por um lado, foi bom, porque projetou meu nome. Por outro, criou uma expectativa muito grande com relação ao meu trabalho. E filmes como aqueles não aparecem todos os dias.
Além disso, fiquei muito associada à imagem de menininha. Só agora, depois de 12 filmes em que desempenhei os mais diferentes papéis, estou conquistando uma nova imagem na Espanha.
Folha - Os filmes em que você atuou quando criança eram muito complexos. Você tinha idéia do que estava fazendo?
Torrent - Nenhuma. No "Espírito da Colméia", eu sabia simplesmente que era uma menina que queria ver Frankenstein, e em "Cria Cuervos" era uma menina que queria matar o pai e a tia. Eu me limitava a seguir as instruções do diretor.

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