São Paulo, quarta-feira, 14 de agosto de 1996
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"Stomp" é comportado para padrões brasileiros

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Gerar ritmo a partir de uma infinidade de fontes é o objetivo do espetáculo "Stomp", que o grupo Yes/No People estreou na segunda-feira passada em São Paulo. Em torno dessa proposta, o elenco procura demonstrar que não há limites na busca do som percussivo.
Tosses vindas da platéia que ganham eco no palco, estalar de línguas e dedos, fricção das palmas das mãos: desde o início, o grupo deixa claro que o ritmo pode estar presente em tudo, em maior ou menor intensidade.
Em sua movimentação acrobática, o elenco apresenta uma sucessão de possibilidades. Objetos de sucata formam a maioria dos instrumentos utilizados pelos percussionistas.
Neste ambiente de objetos descartados, seis rapazes e duas moças não rejeitam nada. Obtêm sons ao movimentar, por exemplo, o canudinho em um copo de papel.
Amassar sacos plásticos também pode fabricar ritmo e som segundo o grupo, que obviamente procura envolver tais revelações em um clima de comédia, ressaltado pelo personagem de Anthony Sparks -o "desligado" que sempre sai do tom e entra na hora errada.
Apesar da surpresa causada pelos objetos utilizados, "Stomp" é convencional em sua articulação cênica. No conjunto, se compõe de uma sequência de quadros que servem para exibir o uso de diferentes fontes sonoras.
Ao longo da hora e meia de espetáculo, tal procedimento torna-se previsível, caindo na mesmice -brandamente interrompida quando dois intérpretes se penduram em frente a um painel feito de latas, para daí produzir uma gama variada de sons.
Na Europa, onde "Stomp" surgiu, o grupo vem esquentando o ânimo das platéias com seus sons em estado bruto. No Brasil, seu apelo perde força, considerando a riqueza percussiva presente nas manifestações culturais do país.
Pobre em calor e ginga, apesar de contar com dois brasileiros em seu elenco, o Yes/No People teria muito o que aprender no Brasil.
Sua musicalidade também está longe do colorido sonoro dos blocos de rua de Salvador. Perto do que se faz espontaneamente por aqui, "Stomp" vira um show comportado e contido.

Espetáculo: Stomp
Quando: até sábado às 21 horas; domingo às 16 e 20 horas
Onde: teatro Sérgio Cardoso (Rua Rui Barbosa, 153; tel. 288-0136)
Quanto: R$ 50,00 e R$ 40,00

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